Título: Inflação em alta estimula troca de títulos públicos
Autor: Pinto , Lucinda
Fonte: Valor Econômico, 22/08/2012, Finanças, p. C2

A inflação voltou com força à pauta dos investidores locais e estrangeiros e começou a dar o norte ao mercado de renda fixa nos últimos dias. Em um movimento global, as taxas de juros de longo prazo aceleraram a alta alinhadas à trajetória ascendente das projeções para os preços dos ativos.

O que está por trás desse movimento, de um lado, são indícios de que a economia americana começa a trilhar trajetória de recuperação, abrindo espaço para a recomposição de preços adiante. E aqui, a visão de que o Banco Central continua privilegiando o crescimento nos próximos meses em detrimento do controle de preços, tem levado investidores a buscarem proteção para um repique da inflação.

Atentos à piora das expectativas de inflação, investidores estrangeiros reforçaram as compras de Notas do Tesouro Nacional série B (NTN-B), títulos federais que rendem uma taxa prefixada mais a variação do IPCA.

Se o investidor acredita que a inflação vai subir, compra o título e também assume uma posição comprada em contratos de Depósitos Interfinanceiros (que equivalem a uma aposta em alta de juros) na BM&F. E é isso que está acontecendo nos últimos dias e ajuda a explicar a alta da projeção de inflação embutida nos papéis do Tesouro, assim como das taxas de juros futuros.

Tanto que, na BM&F, as projeções de juros para o longo prazo refletidas nos contratos que vencem em janeiro de 2014 saíram de 7,75% para 7,89% entre a segunda-feira da semana passada e ontem, enquanto os de janeiro de 2017 subiram de 9,20% para 9,29% no mesmo período.

"A inflação pode surpreender para cima", diz o sócio-gestor da Bresser Asset Management, Rodrigo Bresser-Pereira. "Mas, no nosso cenário, a última medida que o governo vai tomar para conter a inflação vai ser elevar juros."

Enquanto a pesquisa Focus revela uma estimativa de alta de 5,5% do IPCA em 2013, os títulos do Tesouro já apontam uma projeção de 5,80%. Para 2016 e 2018, onde os investidores concentram as compras, as estimativas embutidas estão em 5,29% e 5,41%.

Parte dos investidores que compram NTN-Bs está também se desfazendo de títulos prefixados, especialmente as Notas Financeiros do Tesouro Nacional série F (NTN-F), de prazos mais longos. Comprar esses papéis era normal quando se acreditava que a taxa básica de juro iria continuar em queda. Agora, o que se vê pela frente é o ciclo de alívio monetário chegar perto do fim. Como o próximo passo do Banco Central será elevar a taxa, ainda que isso leve muitos meses, a ordem é embolsar os ganhos obtidos com esse papel e mudar de posição, dizem profissionais.

Essa correção começou a ser percebida no fim de julho, quando o IPCA-15 bateu 0,33% - primeiro sinal de que a alta das commodities agrícolas já impactava nos preços ao consumidor. O ajuste ganhou força quinta passada, com o crescimento de 1,50% das vendas no varejo em junho ante maio.

"Há sinais de atividade melhores que no semestre passado, e o humor dos agentes com relação à atividade está mais otimista", avalia Bresser-Pereira.

A busca por papéis atrelados à inflação, no entanto, não é um fenômeno exclusivo do mercado brasileiro. O movimento é global e tem como base a percepção de que o fundo do poço da atividade econômica global ficou para trás. Assim, o que se vê pela frente é a inflação subindo em alguns anos, assim como as taxas de juros. É isso que mostram as taxas dos T-notes, títulos públicos americanos de dez anos, que caíram abaixo de 1,40% em julho e, agora, já operam acima de 1,80%.