Título: Suplicy pede respeito a Alckmin no próximo debate
Autor: Agostine, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Política, p. A9

O candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, enfrentou ontem uma saia-justa com o senador Eduardo Suplicy. O tucano foi repreendido por Suplicy e também desmentido publicamente pelo petista, depois de uma cerimônia religiosa em homenagem à Nossa Senhora Aparecida. O senador do PT fez, ainda, propaganda do projeto de lei de sua autoria, que estabelece um piso mínimo de distribuição de renda para todos os brasileiros, o Renda Mínima. Diante do constrangimento, Alckmin evitou responder às provocações e aproveitou a situação para não responder às perguntas sobre choque de gestão e corte nos gastos públicos -temas polêmicos levantados por seu assessor na campanha, Yoshiaki Nakano.

Ao fim da missa no Santuário Nacional de Nossa Senhora Aparecida, na cidade paulista com nome em homenagem à santa, Suplicy soltou o verbo contra Alckmin. O desconforto começou quando os dois integrantes de partidos adversários foram colocados à mesma mesa para responder às perguntas dos jornalistas. Logo no começo da entrevista coletiva, Suplicy criticou, indiretamente, o tom agressivo uso desempenho de Alckmin e do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no debate do domingo, na TV Bandeirantes e pediu respeito.

"Espero que no próximo debate ambos possam estar assim como se fossem dois irmãos diante de sua mãe", apontou, referindo-se ao tom agressivo usado por Alckmin no debate. "É importante que ambos sejam muito assertivos dizendo as coisas que pensam, mas também procurando tratar os outros com respeito. O respeito que o povo quer para com aquele que vai escolher como presidente".

O senador disse ter uma boa relação com Alckmin, assim como o presidente Lula tinha com o tucano quando ele estava à frente do governo de São Paulo. Mas, poucas palavras depois, chamou a atenção de Alckmin por causa das declarações feitas pelo tucano contra os investimentos do governo federal no Bolsa Família, carro-chefe da gestão Lula. "Eu só pedi a ele (Alckmin) para ler com atenção a Lei 2.836. Diferentemente do que ele disse no debate existe sim uma contrapartida". Na verdade, o número da Lei é 10.836, de 9 de janeiro de 2004

Constrangido, Alckmin apenas pôs panos quentes: "Hoje é dia de Nossa Senhora e Nossa Senhora é amor". O tucano também não se mostrou confortável para responder sobre suas propostas para a política fiscal. Limitou-se a dizer que o país enfrenta um problema fiscal - "o ponto central do crescimento" - e que pensa de forma diferente de Lula. "Acho que o governo gasta muito, gasta mal. São 34 ministérios, uma quantidade infinita de cargos de comissão, custeio elevado, superfaturamento de obras e compras", criticou.

Nas críticas ao governo federal, o tucano disse ainda que o país não crescerá com a atual carga tributária. "Óbvio que (tratar da) a questão fiscal é pôr o dedo na ferida. Se nós ficarmos rodeando e não enfrentarmos os problemas, vamos crescer só 2% enquanto os outros países emergentes crescem 7%".

De forma diferente da habitual, o candidato encerrou uma rápida coletiva, depois de ter respondido a apenas uma pergunta sobre política (sobre sua proposta fiscal). O tucano não quis analisar a declaração feita pelo presidente Lula, em entrevista ao jornal "O Globo", onde defende o crescimento econômico sem a necessidade de cortar gastos, nem de enxugar o tamanho do Estado, por meio das privatizações. A afirmação de Lula diverge da apresentada por Yoshiaki Nakano, um dos responsáveis pelas propostas econômicas de Alckmin. Nakano propôs a redução drástica dos gastos públicos, da ordem de 3,4% do PIB, e a adoção de mecanismos de controle do câmbio - declarações polêmicas, que levaram Alckmin a desautorizar publicamente seu auxiliar.

Em Aparecida, o candidato do PSDB aproveitou a homenagem à padroeira do Brasil para fazer um corpo-a-corpo com eleitores e disse não ter feito nenhum pedido à santa para que ganhe a eleição. "Política é questão terrena. A gente não deve misturar as questões de Deus com as de natureza política". O santuário recebeu ontem mais de 155 mil romeiros durante o dia.