Título: Chavista é favorito, mas decisão deve ir a 2º turno
Autor: Uchoa, Rodrigo
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Internacional, p. A10

A instabilidade política do Equador não deve se resolver com a eleição geral de domingo, segundo os principais analistas políticos locais. Visto com desconfiança por investidores e credores internacionais, o país parece fadado a viver mais anos de turbulência interna.

As pesquisas mostram o esquerdista Rafael Correa poucos pontos à frente de seus dois principais adversários, o bilionário bananeiro Alvaro Noboa e o ex-vice-presidente León Roldós. Segundo o instituto Market, Correa tem 26% das intenções de voto, contra 19% de Noboa e 16% de Roldós. Como a margem de erro é de três pontos, es-pera-se que Correa enfrente um dos dois adversários no segundo turno, dia 26 de novembro. Para ser eleito já, precisaria ter ao menos 40% dos votos e ficar dez pontos à frente do segundo colocado.

O crescimento de Noboa nas últimas semanas surpreendeu os adversários, que o acusam de comprar votos ao distribuir presentes. Se ele passar ao segundo turno, será pela terceira eleição consecutiva. Nas anteriores foi derrotado pelo liberal Jamil Mahuad e pelo esquerdista Lúcio Gutiérrez, respectivamente, sendo que os dois foram depostos antes do fim de seus mandatos. O presidente eleito antes de Mahuad, Abdalá Bucarám, também foi deposto, acusado de incapacidade mental.

Noboa tem uma plataforma liberal, centrada num Tratado de Livre Comércio com os EUA.

Já Correa promete não finalizar a negociação do acordo. Ele quer promover uma revolução cívica nos moldes da "revolução boliviariana" do presidente da Venezuela, Hugo Chávez. Os termos são muito parecidos: refundar o país, convocar uma Constituinte, aumentar a participação do Estado na economia, renegociar a dívida externa e combater a pobreza por meio de programas sociais pagos pela venda de petróleo (o Equador produz cerca de 500 mil barris diários).

O diretor do instituto de pesquisas Cedatos, Políbio Córdova, afirma que, desde o fim do último regime militar equatoriano, em 1979, nunca o país se viu ante "tamanha confrontação entre dois modelos econômicos e de governo tão distintos". Essa polarização, segundo ele, não vai contribuir em nada para a governabilidade.

Além de presidente, o país escolherá vereadores e os cem deputados do Congresso unicameral. "E o Congresso deverá ser majoritariamente anti-Correa", diz Córdova.

O impasse político resultante pode ser parecido com o que ocorre na Bolívia, onde o governo de esquerda não se entende com a direita, uma força política respeitável.

"Parece que Correa, se eleito, vai tentar mudar as coisas na base da mobilização popular, o que dificulta muito mais o acerto político no Congresso", diz Antonio Miranda, cientista político da Universidade de Miami.

A Petrobras pode ser uma das empresas prejudicadas por uma deterioração do quadro político. Ela extrai petróleo na área amazônica e tem participação no principal oleoduto do país. Há grupos civis que querem que o governo repita com a empresa brasileira o que fez com a americana Occidental no primeiro semestre: alegando quebra de contrato, as autoridades expulsaram a petroleira e expropiaram seus ativos. (RU)