Título: Pagot diz que, a pedido do PT, buscou doações para Dilma
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2012, Política, p. A6

Em mais de sete horas de depoimento, o ex-diretor-geral do Departamento Nacional de Infraestrutura Rodoviária (Dnit) Luiz Antonio Pagot disse ontem à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira que ajudou a arrecadar recursos para a campanha da então candidata a presidente Dilma Rousseff.

"Fui procurado pelo tesoureiro da Dilma [deputado federal José di Filippi, do PT de São Paulo], que me pediu ajuda na arrecadação. Mostrei um rol de empresas que trabalhavam com o Dnit. Ele disse que em relação às maiores eu não precisava me preocupar, pois o comitê eleitoral já estava atrás, mas se pudesse pegar umas 40 empresas para fazer uma solicitação de doação seria bom", afirmou Pagot. O encontro ocorreu, segundo ele, no Dnit. Pagot disse ter procurado empresários que acabaram doando, legalmente, cerca de R$ 6 milhões.

Acrescentou que a então senadora Ideli Salvatti, hoje ministra das Relações Institucionais, também pediu a ele ajuda, bem como o ex-ministro das Comunicações Hélio Costa (PMDB). Desta vez, ele negou. Sentiu que Ideli ficou contrariada e Costa ameaçou demiti-lo do cargo se vencesse as eleições. Acabou perdendo a disputa para Antonio Anastasia (PSDB). Ideli também perdeu para Raimundo Colombo (PSD). Ontem ela divulgou uma nota em que disse que no encontro apenas tratou de obras para seu Estado.

Pagot também fez revelações sobre a relação entre o ex-dono da construtora Delta, Fernando Cavendish, com o ex-senador Demóstenes Torres (GO). Segundo ele, ambos estavam em um jantar na casa de Demóstenes, ocasião em que lhe foi pedido a confirmação da empresa em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). "O senador me convidou para uma sala reservada, disse que tinha dívidas com a empresa Delta e que era preciso ter alguma obra para ela. Eu respondi que lamentava, mas não podia reservar nada para a Delta". De acordo com ele, tratavam-se de duas obras situadas no Mato Grosso, que até hoje não saíram.

Questionado sobre o porquê de os integrantes do grupo de Cachoeira demonstrarem satisfação com sua demissão do cargo em 2011, Pagot disse achar que devia-se a "alguns problemas com a Delta", levantados pela rede de controle do Dnit formada pela Controladoria-Geral da União, Tribunal de Contas da União e Polícia Federal. Citou subcontratações feitas pela Delta em algumas licitações, atraso na execução de obras e insistências para a concessão de aditivos.

Sobre uma eventual relação com o ex-diretor da estatal paulista Dersa, Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, declarou que se encontrou com ele apenas durante uma negociação sobre recursos para obras do Rodoanel, quando foi pressionado pelo governo paulista a assinar um aditivo.

Negou-se a assiná-lo e ouviu depois em um encontro casual que os recursos do aditivo seriam destinados para o financiamento de campanhas da oposição, como José Serra (PSDB), Geraldo Alckmin (PSDB) e Gilberto Kassab (à época no DEM). Foi, porém, uma "conversa de botequim, sem possibilidade de ser provada". Acusou também correligionários, como os deputados Weliton Fagundes (PR-MT) e Valdemar Costa Neto (PR-SP), de serem extremamente insistentes para que algumas obras da Delta tivessem andamento.