Título: Para cumprir promessas, Serra e Haddad precisarão superar aliados
Autor: Lima , Vandson
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2012, Política, p. A

Nos primeiros dias de propaganda eleitoral na televisão, José Serra (PSDB) e Fernando Haddad (PT) foram os únicos entre os candidatos mais cotados à Prefeitura de São Paulo a apresentar propostas para a cidade. No entanto, terão de superar os feitos de seus aliados à frente da gestão municipal para, caso eleitos, cumprir as promessas.

O líder das pesquisas de intenção de voto, Celso Russomanno (PRB), optou nos primeiros dias por gastar seus 2min11s com uma parábola sobre passarinho contada por seu vice, Luiz D"Urso (PTB), agradecimentos e uma metáfora que colocava São Paulo como uma pessoa maltratada pelos políticos que estão ou estiveram à frente da prefeitura. Gabriel Chalita (PMDB) repetiu na sexta-feira o programa da estreia, centrado em seus atributos pessoais e no fato de ser próximo tanto do governador Geraldo Alckmin (PSDB) quanto da presidente Dilma Rousseff (PT).

Haddad prometeu fazer 150 km novos de corredores de ônibus no município. A proposta também consta em seu programa de governo, acompanhada de outros 150 km de faixas exclusivas - a diferença é que o corredor promove mais alterações nas pistas, pois a saída do ônibus se dá pela esquerda. No governo de Marta Suplicy (PT) foram feitos 72 km de corredores. Segundo o deputado federal Carlos Zarattini (PT), ex-secretário dos Transportes e coordenador do plano de governo de Haddad para o setor, o custo estimado para a obra é de R$ 4 bilhões.

O candidato petista, em sua segunda inserção, promete construir três novos hospitais. Não por acaso: o prefeito Gilberto Kassab (PSD) prometeu entregar três hospitais novos antes de concluir a atual gestão e inaugurou dois outros em seu primeiro mandato. Durante o primeiro debate na Band, o tucano Serra acusou as administrações anteriores à sua na prefeitura - inclusive a de Marta - de não investir na construção de hospitais. "Durante 17 anos não se fez nenhum hospital", disse à época. Em resposta, Haddad afirmou que os dois hospitais entregues por Kassab foram iniciados no governo da petista.

Na propaganda de Serra, ganhou destaque proposta para levar cursos técnicos para todos os 45 Centros de Ensino Unificado (CEU). Hoje 22 CEUs oferecem cursos técnicos, com uma oferta semestral de 1,3 mil vagas. A atual gestão inaugurou 24 CEUs em seis anos. A gestão Marta, idealizadora do modelo, fez 21. Haddad promete 20 novas unidades em quatro anos e a retomada do projeto educacional original, mais voltado para a integração do espaço à comunidade local.

O tucano também encampou promessa de transformar 200 favelas da cidade em novos bairros. Na gestão de Kassab, que está em seu sexto ano, o programa de urbanização de favelas e o Programa Mananciais somam 85 comunidades urbanizadas, 8.457 unidades habitacionais entregues e 56.700 famílias beneficiadas. A secretaria municipal de Habitação não informou o número de favelas que estão sendo urbanizadas no âmbito das Operações Urbanas.

Para o cientista político Eduardo Marques, pesquisador do Centro de Estudos da Metrópole (CEM) e especialista em políticas de habitação e infraestrutura, "a meta do candidato Serra é genérica", pois há favelas em São Paulo de portes e características muito diferentes - de poucas dezenas de habitantes até várias dezenas de milhares. "Imagino que Serra fará um detalhamento da proposta em seu programa de governo, mas a meta apresentada em si diz pouco. Se a proposta for urbanizar as 200 maiores favelas da cidade, aí é de fato algo bastante significativo".

Marques avalia que as gestões de Serra e Kassab foram mais bem sucedidas que as anteriores na regularização de terrenos e investimentos, mas perderam para a administração de Marta em termos de política urbana - ou seja, de pensar ações articuladas com investimentos nas áreas social, de infraestrutura urbana e saneamento. A administração Kassab, observa o cientista, focou seu trabalho em comunidades grandes, como Paraisópolis, na zona sul, "o que é notável já que exige uma engenharia mais complexa". Mas reitera que a regularização fundiária e ações integradas para essas áreas caminham ainda a passo lento.

Haddad garantiu na propaganda eleitoral que, se eleito, construirá 55 mil casas. É mais que o dobro do que foi entregue por Marta, que deixou 23 mil unidades construídas no fim de sua gestão.