Título: Net compra Vivax e ganha força na disputa com as telefônicas
Autor: Vieira, Catherine e Magalhães, Heloisa
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Empresas, p. B1

A Net surpreendeu ontem ao divulgar que firmou contrato para a aquisição da Vivax, segunda maior operadora de TV por assinatura em base de assinantes do país, que atua principalmente no interior do Estado de São Paulo e também possui serviços de internet banda larga. A operação, segundo comunicado divulgado pelas companhias, deverá ocorrer em duas etapas e não haverá pagamento em dinheiro, mas sim uma troca de ações, que exigirá um aumento de capital da Net.

Na primeira etapa da operação está prevista a compra da participação minoritária da Horizon Telecom International, que detém 36,7% do capital da Vivax. Numa segunda fase, o atual controlador da Vivax, Fernando Norbert, deve transferir o controle da companhia em troca de ações preferenciais da Net, operação que ainda depende da aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel), por se tratar de uma troca de controle.

De acordo com estimativa de um analista do setor, o valor da Vivax na operação corresponderia a cerca de R$ 1,33 bilhão, o que equivale, segundo o especialista, ao número de ações da Vivax multiplicado por 0,5678 (relação de troca divulgada) e pelo preço da ação PN da Net no último pregão antes do anúncio.

Com a aquisição, a participação da Net no mercado de TV por assinatura passará para cerca de 45%. No mercado de banda larga, a empresa terá um crescimento de 2%, passando para 14%. Em receita líquida, a aquisição da Vivax representará um crescimento de 17% para a Net. A estrutura de controle da companhia não será alterada, permanecendo a Globo Comunicação e Participações como controladora.

A reação dos analistas e investidores ao anúncio foi bastante positiva. Apesar de o pregão local não ter funcionado ontem em função do feriado, o ADR da Net subiu 5,89% no mercado americano, cotado a US$ 10,42. "A operação faz todo sentido, pela enorme complementaridade entre as duas, e acerta direto no coração da Telefônica", observou o analista de um grande banco estrangeiro.

Com a aquisição, a Net amplia sua área de atuação e aprofunda sua presença em um local estratégico na disputa de mercado, que é o interior de São Paulo. A Vivax, que abriu capital no início deste ano no nível 2 de governança corporativa da Bovespa (no qual também está a Net) fechou o primeiro semestre do ano com receita líquida de R$ 155,4 milhões, lucro antes de juro, imposto, depreciação e amortização (lajida) de R$ 64 milhões e dívida líquida de R$ 130 milhões. Já a Net teve no primeiro semestre receita líquida de R$ 905 milhões e dívida de R$ 392,3 milhões. A aquisição da Vivax tem como objetivo gerar escala e sinergia, uma vez que a empresa é a segunda maior em base de clientes de TV por assinatura, com 312,7 mil assinantes e atua com 34 concessões, sendo que 31 delas estão no Estado de São Paulo. Em 32 das cidades em que atua, a Vivax é a única operadora de TV a cabo, segundo informa comunicado da empresa.

O presidente da Net, Francisco Valim, avalia que esse é um negócio de escala. "A consolidação é algo natural", disse ele. Valim, no entanto, não sinaliza que há novas aquisições em vista. "Não vamos necessariamente fazer outras [aquisições]. A compra da Vivax foi uma oportunidade que surgiu."

Na opinião de um executivo de uma multinacional fornecedora de produtos para o setor, que pediu para não ser identificado, a Net, que já vinha incomodando, e muito, as operadoras de telefonia fixa, ao oferecer seu pacote de serviços - banda larga, voz e TV por assinatura -, passará a irritar ainda mais as teles.

Segundo esse interlocutor, "as empresas de TV por assinatura têm vivido uma fase de desespero nos últimos anos", mas com a entrada nos mercados de internet em alta velocidade e de telefonia, abriu-se uma nova rota de lucro. "Isso mostra que essa fusão é mais incidental do que estratégica, mas acredito que acabará trazendo mais concorrência para o setor", diz.

As teles fixas, comenta o executivo, já começaram a sentir os reflexos da concorrência. "A Net começou a mexer com as operações das grandes teles, principalmente com a Telefônica e a Telemar", comenta. "Essas empresas terão que oferecer descontos e serviços gratuitos se não quiserem perder clientes, o que já está acontecendo, e rapidamente."

Uma das razões que levaram as operadoras de TV a cabo a investir em novas fontes de receita, acredita esse executivo, seria o atraso da chamada terceira geração (3G) da telefonia móvel, tecnologia que permitiria a distribuição de conteúdos de TV em dispositivos móveis. "Acontece que o 3G não vingou porque até hoje não se chegou a um entendimento entre as operadoras de TV e as teles móveis."

A consolidação de empresas de TV por assinatura, segundo ele, já era um movimento esperado e deve ganhar força daqui para a frente. "Tudo indica que o cliente deverá ser o maior beneficiado disso, porque os preços terão que cair."

Segundo um analista que acompanha o setor, os rumores no mercado davam conta de que outra operadora de TV a cabo estaria negociando a compra da Vivax. "A Net surpreendeu e cada vez mais me parece que a consolidação fica entre os grupos Telmex e Telefônica, que são grandes e já concorrem em outros lugares", avalia ele. Segundo esse analista, a operação foi considerada positiva tanto do ponto de vista estratégico, por conta da sinergia, quanto do valor e da diluição societária. De acordo com os cálculos desse especialista, a operação traz um acréscimo de lajida de 25% , percentual próximo ao da diluição pelo aumento de capital, que segundo ele será de 24%.