Título: Philips se reinventa para reduzir custos com informática
Autor: Borges, André
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Empresas, p. B3

O homem de 1 bilhão de euros. A frase até que cairia bem para Daniel Hartert, executivo responsável por gerenciar em todo o mundo o invejável orçamento de tecnologia da informação (TI) da Royal Philips Electronics. Mas esse alemão se mostra pouco afeito a apelidos, principalmente a algo que possa vincula-lo à cifra que a gigante dos eletrônicos destinará este ano à informática. "Hoje gastamos 1 bilhão de euros, mas esse valor vai cair. Estamos trabalhando nisso", diz.

Não há nada de marketing nas poucas palavras de Hartert. Sabe disso a alta diretoria da Philips, assim como seus principais fornecedores de TI.

Desde que passou a liderar o time de informática da Philips, em 2002, Hartert passou a perseguir a redução de custos. Com o aval e o conhecimento de uma companhia que vive de vanguarda tecnológica, o diretor global de TI enumerou iniciativas para o setor, desde a reorganização da infra-estrutura até a renegociação de contratos com fornecedores. As medidas funcionaram, e muito. O orçamento de tecnologia da empresa, que chegava a 1,5 bilhão de euros em 2002, caiu em mais de 400 milhões de euros.

Então a empresa vinha desperdiçando dinheiro? "Não exatamente", rebate Hartert, defendendo a tese de que a própria evolução e a convergência de tecnologias são alguns dos fatores que têm permitido à área de TI se manter atualizada, enquanto procura cortar na própria carne. Um bom exemplo disso, menciona o executivo, está nas telecomunicações.

Ao analisar seus serviços de transmissão de dados, Hartert se deparou com mais de 25 contratos. "Reavaliamos tudo. Hoje estamos concentrados em quatro grandes fornecedores mundiais", conta o executivo.

A redução no número de parceiros veio acompanhada da aposta no protocolo da internet (IP, na sigla em inglês) para integrar serviços de telefonia e troca de dados entre as filiais. Resultado: em 2002 a Philips gastava 220 milhões de euros com telecom; neste ano serão 160 milhões de euros. "Desafiamos os fornecedores a encontrar novos modelos de negócios", conta o executivo. "Alguns até mudaram os países pelos quais prestavam serviços."

A reestruturação não se limitou aos parceiros. Toda a gestão de infra-estrutura de TI, que até então era descentralizada para atender os mais de 60 países onde a Philips atua, foi concentrada em três cidades: São Paulo, Andover (EUA) e Eindhoven (Holanda). O gerenciamento de sistemas ficou a cargo da unidade de Bangalore, na Índia. Esses data centers, explica Hartert, passaram a funcionar como grandes centros de serviços compartilhados. "Hoje a maneira como administramos TI na América Latina não é diferente da que adotamos na Europa ou na Ásia/Pacífico."

A queda no número de prestadores de serviços não significa, porém, que a Philips reduziu a participação dessas empresas em seu bolo orçamentário. Hoje os contratos com terceiros somam entre 50% e 60% de seus gastos com TI. Essa média tende a se manter, uma vez que, se por um lado a Philips mapeia tudo o que é commodity para terceirizar, por outro passa a internalizar diversas especificações de software, como, por exemplo, seus sistemas analíticos. "Foi a maneira de ficarmos mais próximos dos negócios", diz Hartert. "O mercado muda muito, há aquisições, integrações. Precisamos ter o conhecimento dentro de casa."

O conhecimento a que o executivo se refere está hoje distribuído entre 2,4 mil profissionais de TI, responsáveis pelo atendimento aos 160 mil funcionários da fabricante holandesa. Para lidar com uma comunidade desse porte, o pessoal de tecnologia procura "domesticar" seus processos. "Estamos cada vez mais orientados ao usuário final, inclusive o que ele costuma acessar em sua própria casa", diz o executivo.

Como exemplo, Hartert cita os sistemas de mensagem instantânea, que vieram do ambiente residencial e que hoje são usados por 40 mil funcionários, dentro da empresa. Os blogs (diários on-line) também foram incorporados para incentivar a troca de informações.

Para 2007, uma das mudanças previstas na TI da Philips está atrelada ao correio eletrônico, que deixará de ser encarado como propriedade tecnológica, para assumir um perfil de serviço, desvinculado de aquisições de software. "Não estamos mais interessados em comprar milhares de licenças de e-mail todos os anos. Só queremos a ferramenta para o usuário final", manda o recado o diretor de TI da Philips para a América Latina, Luiz Carlos Heiti. Por trás de mais essa decisão, adiciona Heiti, está a simplificação no trato da tecnologia e, claro, redução dos custos do setor. Ao seu lado, Hartert ouve atento as palavras do assessor. E gesticula discretamente, sinal de que os discursos, tal como as ações, estão afinados.