Título: Investidor está cético com recuperação
Autor: Zampieri , Aline Cury
Fonte: Valor Econômico, 27/08/2012, Finanças, p. C2

Os sinais de desaceleração mais intensa da China, o que os economistas chamam de "pouso forçado", e a recuperação mais lenta da economia brasileira já provocam apreensão entre os investidores que acompanham a Bovespa. Uma pesquisa feita pelo Deutsche Bank com seus clientes mostrou que "uma recuperação material da economia doméstica ainda não está sendo sentida". Essa sensação levanta preocupações sobre a redução nos ganhos projetados para o segundo semestre deste ano.

"Alguns clientes indicaram que, em conversas com companhias privadas, ainda não foi vista melhoria significativa na dormente economia brasileira", comentam os analistas Frederick Searby e Francisco Schumacher em relatório divulgado na última semana. Os lucros vêm se mostrando fracos nos últimos trimestres e as revisões dos resultados para baixo devem continuar no terceiro trimestre.

Apesar dessas expectativas, há sinais de que os cortes de juros e os estímulos do governo podem ser o começo de uma ligeira melhora geral. O banco lembra que a última divulgação das vendas do varejo e criação de vagas levantaram esperanças de recuperação. A queda na inadimplência dos bancos em junho também foi um sinal positivo. O fator crítico é um crescimento fraco levar a uma piora no mercado de trabalho. Vale lembrar que esta semana reserva uma nova reunião do Copom, além da divulgação do PIB do segundo trimestre.

Segundo o Deutsche, o segmento de shopping centers é consenso em favoritismo entre os investidores locais. As ações de educação estão crescendo em popularidade e o financeiro está cada vez mais controverso, mas segue sendo o favorito entre os de maior capitalização. A área de energia está profundamente desfavorecida, e Petrobras continua fortemente impopular. No extremo negativo estão as produtoras de materiais básicos - caso de Vale, MMX e CSN -, que foram afetadas diretamente pela queda do preço do minério de ferro, e agora apresentam as piores expectativas de resultados.

Na sexta-feira, o minério foi cotado abaixo de US$ 100 por tonelada no mercado chinês pela primeira vez desde dezembro de 2009, reflexo dos sinais da desaceleração do país, principal consumidor da commodity. No dia anterior, a leitura preliminar do índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês), divulgada pelo HSBC, mostrou que a atividade econômica chinesa caiu para 47,8 em agosto, frente à leitura final de 49,3 em julho.

As ações da Vale sentiram o baque e encerraram o pregão em baixa. O papel PNA perdeu 0,78%, para R$ 33,92, com forte giro de R$ 922 milhões. A ação ON recuou 0,48%, a R$ 34,53, com R$ 164 milhões negociados. Juntas, elas responderam por um quinto de todo o volume da Bovespa no dia. Além disso, a BlackRock revelou que está mais pessimista com a empresa e revisou seu posicionamento, de "overweight" (acima da média do mercado) para neutro. "A mineradora apresentou resultados abaixo do esperado no segundo trimestre e não temos visto uma recuperação do preço do minério", disse Will Landers, responsável por alocar os recursos da gestora na América Latina.

O Ibovespa encerrou em baixa de 0,15% na sexta, aos 58.425 pontos, com volume de R$ 5,902 bilhões. Desta forma, a bolsa brasileira acumulou perda de 1,11% na semana, mas ainda sobe 4,15% em agosto e apresenta valorização de 2,94% em 2012.