Título: Colón fecha as portas para celebrar 100 anos em 2008
Autor: Rocha, Janes
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Empresas, p. B4

Mesmo durante a mais grave recessão argentina, em 2001 e 2002, a sala deslumbrante do Colón não deixou de ser frequentada No próximo dia 28 de outubro, o Teatro Colón de Buenos Aires vai abrir as portas para sua última apresentação. Por um ano e meio, sua sala vai ficar fechada para a última etapa de uma reforma que começou em 2001 e será concluída no início de 2008.

A reabertura está marcada para 28 de maio de 2008, data em que se comemorará seu centenário com a apresentação de "Aída", de Giuseppe Verdi (1813-1901), versão da mesma ópera que inaugurou o Colón em 1908. O espetáculo de despedida será "Boris Godunov", considerada a obra-prima do compositor russo Modest Petrovich Mussorgsky (1839-1881).

Por suas características acústicas, o Colón é considerado um dos três melhores teatros líricos do mundo, ao lado do Scala de Milão e da Ópera de Viena.

Declarado Monumento Histórico Nacional em 1989, Colón é um dos grandes orgulhos dos argentinos, que não o abandonaram mesmo na pior fase da mais profunda crise econômica do país entre 2001 e 2002. Nessa época, os espetáculos diminuíram em quantidade, mas o teatro continuou cheio.

Projetado pelo engenheiro italiano Francesco Tamburini, em 1897, levou 18 anos para ser concluído. Suas linhas arquitetônicas foram inspiradas na Ópera de Garnier, de Paris, e sua deslumbrante sala de 50 mil metros quadrados e capacidade para 3 mil espectadores já sediou a apresentação de alguns dos nomes mais famosos da ópera como Arturo Toscanini, Enrico Caruso, Maria Callas, Plácido Domingo e Luciano Pavarotti.

Colón, por muitos anos, recebeu intervenções paliativas para conter a deterioração natural do tempo. Algumas temerárias, como a retirada, em 1994, do sistema anti-incêndio alocado próximo ao palco, relata a arquiteta Sonia Terreno, chefe do projeto Master Plan de restauração. Diversos problemas foram encontrados quando as obras de restauração começaram em 2001. A estrutura de madeira trabalhada em estilo renascentista estava escurecida, sob efeito do tempo. Para compensar o escurecimento de todo ambiente, os administradores do teatro iam trocando a iluminação por lâmpadas cada vez mais fortes, o que ampliou consideravelmente o consumo de energia elétrica.

O projeto Master Plan é baseado na restauração do edifício de fora para dentro, para diminuir, ao mínimo possível, a interferência em sua programação e o prazo em que deveria permanecer fechado ao público. Primeiro foram restaurados o telhado e as clarabóias de vitrais. Depois todo o restante da parte externa e as salas laterais que abrigam os camarins e os recitais de música. Agora, a última parte é a sala de espetáculos e o foyer de mármore de Carrara, o que exigirá o fechamento para o público. A programação de espetáculos deste período está sendo redirecionada para outras salas da cidade.

As obras do Master Plan estão orçadas em US$ 25 milhões no total, dos quais metade é financiada com recursos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e metade com recursos orçamentários da Prefeitura de Buenos Aires.

Além das obras civis, o teatro está sendo dotado de sistemas tecnológicos modernos de segurança contra incêndios e de climatização para conter a deterioração natural, além de um avançado sistema de iluminação que permite melhorar as condições de luz cênica e de circulação do público, ao mesmo tempo em que economiza energia elétrica. Ao lado do edifício, onde hoje há um estacionamento, o projeto prevê a substituição por uma praça aberta ao público para espetáculos ao ar livre.

Para a arquiteta Sonia Terreno o maior desafio em um empreendimento de tamanha envergadura foi levá-lo em frente com o teatro em funcionamento. Em sete anos de obras, o Colón ficará fechado por apenas um ano e meio. "São muitas obras pequenas e muitas empresas trabalhando simultaneamente", comentou Sonia, em entrevista ao Valor na semana passada.

A recuperação do teatro demandou uma enorme mobilização de recursos financeiros, técnicos e de pessoal, públicos e privados. Praticamente 95% das licitações estão feitas, ainda faltam quatro ou cinco que estão em andamento, segundo a arquiteta.

No estágio atual, 13 empresas estão executando ao mesmo tempo 16 obras. "Um grande desafio será a restauração da sala principal que há quase 40 anos nunca passou por nenhuma reforma", diz Sonia. Para ela, esta é a parte mais interessante porque "combina engenharia com restauração de têxteis e cortinados".

Para lançar as licitações públicas de contratação das obras, a prefeitura demandou estudos minuciosos, já que muitos dos materiais não existem mais no mercado, como o piso decorado de cerâmica e os cortinados e carpetes que revestem a sala principal. O plano de reforma do Colón contou com a consultoria de diversos especialistas e instituições ligados a teatros nacionais e internacionais, diz a arquiteta. No caso dos bandôs bordados artesanalmente, que revestem as laterais, frisas e cabines, o processo de restauração recebeu consultoria da italiana Elizabeta Fabri, especialista em têxteis que trabalhou na equipe que estudou o Santo Sudário.