Título: Abdib vê com apreensão resultado do último leilão
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Empresas, p. B5

A Associação Brasileira da Infra-Estrutura e Indústrias de Base (Abdib) viu com apreensão os resultados do segundo leilão de energia nova, que licitou 1.104 megawatts (MW) médios na última terça-feira. Para a entidade, o leilão não atingiu os grandes objetivos a que se propunha: garantir a modicidade tarifária, atrair novos investimentos e assegurar o abastecimento energético com antecedência. O governo avalia que os resultados afastaram o racionamento em 2011.

Segundo a associação, houve incoerência entre oferta e demanda. Foram vendidos 569 MW médios de energia hidrelétrica (com preço médio de R$ 112,57/MWh) e 535 MW médios de térmica (com preço médio de R$ 137,44/MWh). Isso foi suficiente para atender 99% da demanda apresentada pelas distribuidoras para 2011. Para a Abdib, essa demanda, porém, sinaliza uma expectativa de baixo crescimento da economia.

No plano decenal de energia, elaborado pelo governo para o período 2006-2015, há uma estimativa de que será necessário expandir a capacidade de geração para perto de 4.000 MW por ano - algo como 2.000 MW médios. Nessa interpretação, o leilão só conseguiu atender o interesse das distribuidoras porque a demanda foi pequena. Se fosse maior, provavelmente não haveria oferta disponível. "Em um cenário de incremento da economia, as distribuidoras terão de contratar mais energia", diz relatório da Abdib.

Das quatro usinas hidrelétricas postas em licitação, apenas duas - Mauá e Dardanelos - foram concedidas. Para a entidade, os baixos preços e as elevadas obrigações ambientais afastaram investidores privados. Subsidiárias da estatal Eletrobrás tiveram forte presença nas duas hidrelétricas arrematadas. Isso prejudicou a modicidade tarifária, afirma a Abdib. "Não adianta pressionar excessivamente para baixo os preços dos novos empreendimentos hidrelétricos, cuja energia é mais barata, e aumentar a fatia da térmica, mais cara, de forma desproporcional."

Esse foi o segundo leilão com baixa participação de hidrelétricas. Em dezembro de 2005, 70% da energia vendida provinham de termelétricas movidas a combustíveis fósseis, mais poluentes e com preços mais altos. Tal desequilíbrio acarreta riscos para a própria garantia de abastecimento futuro.

Os leilões A-5, como o de terça-feira, visam suprir o aumento do consumo cinco anos adiante. O foco deveria ser a energia hidrelétrica, uma vez que as usinas desse tipo levam justamente uma média de cinco anos para serem construídas. Já os leilões de ajuste A-3 foram criados para viabilizar, no presente, a energia que suprirá o aumento do consumo três anos adiante. Nesse caso, o foco tende a ser a energia térmica, pois as termelétricas demoram menos tempo (entre seis meses e três anos, dependendo do porte) para serem erguidas.

Portanto, é o tipo de energia "ideal para suprir perspectivas de desequilíbrio entre oferta e demanda detectados pelas autoridades", destaca o relatório. No leilão de terça, a energia térmica representou 48,5% de tudo o que entrará no sistema em 2011 - com um preço 22% maior.

Outro ponto "grave" levantado pela Abdib foi a baixa participação das usinas "botox" - aquelas concedidas no passado, mas sem energia contratada. Para a entidade, o preço máximo estabelecido pelo governo para a energia hidrelétrica inviabilizou a negociação de alguns desses empreendimentos.