Título: Grupo Suez tem R$ 3 bilhões para o Brasil
Autor: Capela, Maurício
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Empresas, p. B5

A multinacional franco-belga Suez está de volta aos grandes projetos de geração de energia no Brasil. Controladora integral da Tractebel Energia, maior geradora privada do insumo no país com 8% de participação de mercado, a companhia já se prepara para começar a desengavetar empreendimentos, que juntos deverão resultar em investimentos ao redor de R$ 3 bilhões nos próximos anos.

O primeiro passo para que essa cifra vire realidade foi dado na última terça-feira, quando a companhia vendeu toda a energia da usina de São Salvador, localizada no Estado do Tocantins, no leilão realizado pelo governo federal. Orçada em R$ 800 milhões, a hidrelétrica vai produzir 148 megawatts (MW) médios.

No Brasil, a Suez atua como uma holding, já que a Tractebel é quem opera as 13 usinas. O faturamento, portanto, esperado para 2006 é de R$ 2 bilhões, contra R$ 1,7 bilhão de 2005.

Contudo, Maurício Bähr, presidente da Suez no Brasil, explicou ao Valor que há mais planos pela frente. A empresa está finalizando os últimos detalhes para obter a licença ambiental da usina hidrelétrica de Estreito, situada entre Tocantins e Maranhão (no rio Tocantins) e cujo investimento é de R$ 2,3 bilhões. Além disso, o grupo também tem sinalizado ao governo federal que tem interesse em participar dos projetos de Gás Natural Liqüefeito (GNL), o que poderia demandar ao redor de US$ 600 milhões ou R$ 1,308 bilhão. A cotação média usada para o dólar foi de R$ 2,18.

"No projeto de Estreito, temos uma participação de 40,07%, que corresponde também para o investimento. Então, deveremos ser responsáveis por R$ 920 milhões dos R$ 2,3 bilhões", explica o executivo. Os demais sócios nessa hidrelétrica são Cia. Vale do Rio Doce (30%), Alcoa (25,49%) e Camargo Corrêa (4,44%).

No entanto, a previsão é que a hidrelétrica de Estreito só faça parte do próximo leilão do governo, cuja previsão aponta para o primeiro semestre do próximo ano. Agora, caso a Suez consiga negociar o volume de energia desse empreendimento, que é de quase 585 MW médios, as autoridades do País poderão comemorar. Isso, porque essa capacidade é maior que os 569 MW médios de fonte hídrica vendidos no pregão desta última quarta-feira. No total, o leilão movimentou 1,1 mil MW médios.

"A hidrelétrica de Estreito, realmente, é um grande projeto e precisará haver demanda para essa energia. Mas o fato é que a conclusão da venda da energia de São Salvador foi um bom sinal, porque a negociação não era tão simples assim", avalia Carlos Nunes, analista de Energia da SLW.

A dificuldade deste projeto se refere ao Uso do Bem Público (UBP), taxa cobrada dos empreendimentos no modelo anterior. Portanto, ao invés da Suez receber os R$ 135,01 por megawatt/hora (MWh) fechado no pregão, na verdade, receberá R$ 112,9, porque ao redor de R$ 22 seguirá para União.

Mesmo assim, Bähr explica que esse valor foi suficiente para remunerar o investimento deste projeto, o que não significa que este valor é o bastante para outros empreendimentos. "Nesse caso foi, porque São Salvador é uma usina que inunda uma área pequena e tem uma construção simplificada", revela o presidente da Suez.

O analista da SLW vai além. Conta que o grupo Suez tem por regra apostar em projetos que tenham uma taxa de retorno superior a 15%. "Caso contrário, eles não investem e preferem remunerar os acionistas", conta Nunes.

O fato é que a estrutura financeira de São Salvador já está pronta. Muito provavelmente 30% dos R$ 800 milhões sairão dos cofres da empresa e o restante virá de financiamentos, como bancos comerciais e o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Já em GNL, o presidente da Suez no Brasil afirma que estaria disposto a colocar algo como US$ 300 milhões na conversão dos navios que serão usados nas plataformas idealizadas pela Petrobras no Ceará e Rio de Janeiro. E também teria intenção de aplicar outros US$ 300 milhões para construir um terminal terrestre para o abastecimento. Com seis navios de GNL espalhados pelo mundo, o grupo detém 20% desse mercado.