Título: Chefe da GM critica fraco crescimento do Brasil
Autor: Olmos, Marli
Fonte: Valor Econômico, 09/01/2007, Empresas, p. B5

O presidente mundial da General Motors, Rick Wagoner, criticou ontem o fraco desempenho da economia brasileira. "Se eu estivesse na liderança do governo do Brasil eu ia querer saber por que a média de crescimento do país é a metade do resultado de nações como Rússia, Índia e China", disse à imprensa brasileira durante o salão de Detroit.

"Eu sempre me pergunto por que o Brasil só cresce 3% ou pouco mais por ano e não 8% ou 10%", completou o executivo que comanda a maior montadora do mundo. A questão do crescimento econômico representa uma barreira à necessidade de a GM investir mais no Brasil, disse Wagoner.

A GM está numa encruzilhada. Precisa gastar mais no Brasil para renovar a linha de carros se quiser continuar mantendo o nível de atividade e o resultado financeiro positivo conquistado em 2006. O executivo que comanda a operação brasileira, Ray Young, diz que precisa de US$ 1 bilhão extra para 2008 e 2009 (a empresa já aplica em média R$ 500 milhões/ano).

Os recursos seriam da própria filial brasileira. Mas dependem de aval da matriz, nos Estados Unidos. A primeira condição para a autorização de um novo programa de investimentos era estancar os prejuízos. A filial brasileira conseguiu a lucratividade em 2006, segundo a companhia.

"Estamos felizes com os resultados e sabemos que esse sucesso só continuará com novos produtos e a substituição dos existentes", disse Wagoner, visivelmente mais tranqüilo por conta da melhora financeira da companhia nos Estados Unidos. "Mas o investimento no Brasil depende do crescimento da economia."

Young espera uma resposta da matriz ainda neste semestre. Sua reputação anda alta em Detroit. No domingo à noite ele recebeu um troféu pelo recorde histórico de vendas no Brasil. Foram 409.932 unidades no mercado doméstico em 2006 - 2.032 mais do que o recorde anterior, de 407.900, alcançado em 1997.

Mas o bom desempenho local não foi suficiente para compensar as perdas nas exportações. Como parte da estratégia para conter os prejuízos da valorização do real, o volume de exportações caiu 26%, o que levou a empresa a produzir 1,5% menos em 2006 em comparação com 2005. Segundo Young, em 2007, as exportações devem cair mais 10%, mas serão compensadas pelo mercado doméstico.

A empresa enfrenta problemas hoje para atender à demanda interna. "Os níveis dos estoques que costumam ser de 25 mil carros caíram para 17 mil", diz Young. A empresa foi obrigada a conceder férias coletivas de duas semanas na virada do ano para ajustes técnicos. "Certamente vamos perder vendas por conta disso", afirma. A possibilidade de o mercado brasileiro passar de 2 milhões de unidades em 2007, como prevêem os fabricantes, abre para a GM a chance de vender no Brasil marcas importadas do grupo. Wagoner contou ontem que seu desejo seria vender no país carros Cadillac, uma marca de luxo, fabricada nos EUA.

Não são apenas os carros americanos que podem chegar no mercado brasileiro. Diante da ameaça dos chineses, que já anunciaram uma fábrica da Chery no Uruguai, a GM estuda a hipótese de levar seus carros, fabricados na China, para o Brasil. Para o executivo, os chineses devem começar a incomodar os fabricantes que estão no Brasil por volta de 2010. (MO)