Título: O ano dos multimercados
Autor: Monteiro, Luciana
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2007, Eu & Investimentos, p. D1

O ano de 2007 promete ser de forte crescimento para os fundos multimercados. Depois de encerrar o ano passado com a segunda melhor rentabilidade, perdendo apenas para os fundos de ações, e captação superior a R$ 53 bilhões, a expectativa é de que essas carteiras atraiam os investidores em busca de alternativas um pouco mais arriscadas diante de uma das mais baixas taxas de juros da história do país. O movimento pode beneficiar principalmente os gestores independentes, que encerraram 2006 com um desempenho particularmente bom.

A maioria dos gestores ganhou no ano passado com a aposta na queda do dólar e dos juros e na alta da bolsa. Levantamento do Valor, com base nos dados do site Fortuna, mostra que, de 77 fundos de gestores independentes, 68 superaram com folga os 15,04% do CDI. O estudo procurou fundos de gestores sem ligações com instituições financeiras. Por isso, instituições como Hedging-Griffo, comprada recentemente pelo Credit Suisse, SulAmérica, Modal, Fator e Opportunity ficaram de fora. Na mostra, três fundos são de executivos que passaram pelo Banco Central - Mauá, de Luiz Fernando Figueiredo, Lacan, de Luiz Candiota e Gávea, de Armínio Fraga.

O ano de 2006 foi marcado por um processo de consolidação importante para os multimercados, diz Gustavo Coelho, da Arsenal Investimentos, escritório de aconselhamento financeiro. "Muitos fundos alongaram o prazo de resgate das carteiras, dando mais tranqüilidade para o gestor", explica.

A forte turbulência de maio por conta do mercado americano marcou também o amadurecimento do investidor. Diante das fortes perdas nas cotas diárias, provocadas pela queda de 9,5% do Ibovespa no mês e da alta de 11,30% no dólar e da disparada dos juros, os investidores mantiveram-se firmes. Apesar do tranco, a crise de maio vitimou apenas um gestor independente, a Global Invest, cujos fundos tiveram fortes perdas. O maior, o San Marino, terminou o ano com prejuízo de 93%.

Com um mercado na maior parte do tempo com tendências definidas, os fundos que adotam gestão macro - que procuram ganhar com essas tendências - foram mais favorecidos, com retorno médio de 20,66%, segundo a Arsenal. Já o Índice Arsenal Trading encerrou o ano com retorno médio de 19,09%. Fazem parte dessa categoria os multimercados que buscam ganhar com os movimentos de curto prazo dos ativos. Os "equity hedge", ou fundos de arbitragem com ações apenas, encerraram o ano com ganho médio de 18,54%. Os fundos que adotam a estratégia de arbitragem entre ativos em diversos mercados como juros, câmbio e bolsa tiveram ganho médio de 16,98%.

Este ano será mais difícil para os multimercados, por isso a melhor estratégia é reduzir as apostas e reforçar o controle de riscos, diz Fábio Fuzetti, da Antares Capital Management. "Reduzimos siderurgia e ampliamos consumo interno, pois temos dúvidas sobre a economia americana", afirma. O fundo da Antares, que acumula 64% no ano, chegou a perder 5% em maio e ganhar 15% em novembro.

Seletividade é o nome do jogo em 2007, diz Alexandre Maia, economista-chefe e sócio da GAP Asset Management. É um ano onde os prêmios dos ativos estão menores e será preciso escolher cuidadosamente as pérolas de cada setor na bolsa, avalia. Com inflação mais baixa e juro real menor, muitos setores são beneficiados e isso traz reflexos positivos para a bolsa, diz Cristiano Maroja, do CR2. Todo esse dinheiro que vem para a bolsa e com as empresas se adequando cada vez mais aos níveis de governança acaba atraindo ainda mais recursos para ações, beneficiando o mercado de renda variável, diz.

O investidor não deve olhar só o rendimento passado na hora de aplicar. Um dos indicadores utilizados na avaliação de fundos é o Índice de Sharpe, que mede a relação risco/retorno da carteira. Quanto maior o Sharpe, melhor. Outro indicador é o VaR (Value at Risk), que mostra a perda máxima em um único dia que o investidor está sujeito. Se o VaR do fundo é, por exemplo de 10%, significa que o aplicador pode ter perda de até 10% num único dia.