Título: Lucro no setor industrial cai pelo 4º mês na China
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Fonte: Valor Econômico, 28/08/2012, Internacional, p. A11

Os lucros das companhias industriais chinesas caíram pelo quarto mês seguido em julho, segundo mostra um relatório do governo divulgado ontem. O dado contribui para as evidências de um agravamento na desaceleração econômica do país.

Os lucros caíram 5,4% no mês passado, em comparação ao mesmo período de 2011, para 366,8 bilhões de yuans (US$ 57,7 bilhões), segundo informou a Agência Nacional de Estatísticas em sua página na internet. Isso se compara a uma queda de 1,7% em junho e de 5,3% em maio.

Os números divulgados ontem aumentam a pressão para que o governo acelere um afrouxamento de política monetária, para reverter uma desaceleração que poderá se estender pelo sétimo trimestre. Em uma viagem pela Província de Guangdong, em 24 e 25 de agosto, o primeiro-ministro, Wen Jiabao, disse que as dificuldades para se estabilizar a expansão ainda são "relativamente grandes" e defendeu medidas para promover o crescimento das exportações, para ajudar o país a atingir suas metas econômicas anuais, informou a agência de notícias Xinhua.

"Os lucros corporativos poderão continuar fracos por algum tempo, uma vez que não há uma retomada visível do crescimento econômico", afirmou Fang Sihai, economista-chefe da corretora Hongyuan Securities, de Pequim, antes da divulgação dos números. "Isso vai afetar os investimentos do setor corporativo."

Os lucros das empresas do setor industrial caíram 2,7% nos primeiros sete meses do ano, para 2,7 trilhões de yuans, segundo o comunidade divulgado ontem. Isso se compara a uma queda de 2,2% no primeiro semestre e a um ganho de 28,3% no mesmo período de 2011.

O principal índice de ações do mercado chinês caiu 1,7%, a maior queda em seis semanas, com os investidores temendo que a desaceleração do crescimento afete ainda mais os lucros corporativos. A Bolsa de Xangai está em seu menor nível desde fevereiro de 2009.

O PIB chinês cresceu 7,6% no segundo trimestre, o menor avanço em três anos, à medida que a crise da dívida na Europa afetou as exportações do China e a campanha do governo para conter os gastos do consumidor e os preços dos imóveis no país amorteceu a demanda doméstica. O Bank of America estima nova freada, para 7,4%, no terceiro trimestre.

Neste mês o Bank of America e o Deutsche Bank reduziram suas previsões de crescimento do PIB chinês para 2012 para 7,7%, que se confirmado será o menor em 12 anos. Em março o primeiro-ministro Wen estabeleceu a meta de 7,5%.

Os lucros das empresas estão caindo em meio à queda dos preços, alta dos custos e demanda menor. A Xinjiang Goldwind Science & Technology, a segunda maior fabricante de turbinas eólicas da China, disse na semana passada que o lucro do primeiro semestre recuou 83% com a intensificação da competição e a redução do crescimento do mercado.

Uma leitura preliminar de um índice de gerentes de compras divulgado pelo HSBC Holdings e pela Markit Economics em 23 de agosto mostrou o menor número desde novembro. O crescimento das exportações permaneceu quase paralisado em julho, e os novos empréstimos em yuan e a produção industrial não atingiram as expectativas.

A China cortou as taxas de juros em junho pela primeira vez em três anos, fazendo o mesmo em julho. O banco central também reduziu por três vezes o depósito compulsório dos bancos, desde novembro, para estimular o crescimento. O Partido Comunista prometeu no mês passado continuar ajustando as políticas para garantir um crescimento econômico estável neste ano.

A receita das companhias do setor industrial cresceu 10,6% nos primeiros sete meses do ano, para 50 trilhões de yuans, segundo o relatório divulgado ontem.

"Um grande problema no momento é a fraqueza dos investimentos do setor corporativo, e a China precisa se esforçar mais para encorajar os investimentos", disse na semana passada Li Daokui, um ex-consultor do banco central.

O relatório de lucros cobre companhias de 41 setores, segundo a agência de estatísticas. No ano passado, a agência aumentou as vendas anuais mínimas para a inclusão de empresas na pesquisa de 5 milhões de yuans para 20 milhões de yuans.