Título: Fundo investe no Brasil com participação de estrangeiros
Autor: Bueno, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Finanças, p. C3

A CRP Companhia de Participações está montando o seu primeiro fundo "off-shore", com investidores americanos e europeus, para investir em empresas brasileiras de setores que apresentam alto potencial de crescimento e devem passar por processos de consolidação "muito fortes" nos próximos cinco anos, informa o diretor de operações, André Burger. De acordo com ele, os segmentos incluem o farmacêutico, químico e de cosméticos, alimentos, bebidas, varejo e logística.

O sétimo fundo que a gestora de capital de risco e "private equity" estrutura em 25 anos de operação deve somar US$ 100 milhões, com um aporte inicial de US$ 25 milhões já em março de 2007. Conforme Burger, o CRP VII será focado em empresas com faturamento de US$ 30 milhões a US$ 100 milhões por ano, com tempo médio de permanência estimado entre quatro e cinco anos. "Queremos investir em oito a dez empresas", diz o executivo.

A montagem do fundo "off-shore" iniciou quando a CRP instalou um escritório em Miami (EUA), para onde foi deslocado, em agosto, o executivo anglo-americano Russel Deakin. Além de buscar novos investidores, ele está encarregado de prospectar canais de desinvestimento. "Nem todas as empresas investidas vão fazer IPO's (ofertas públicas para abertura de capital)", comenta Burger.

Se alcançar o volume previsto, o CRP VII irá superar todos os fundos anteriores da gestora somados, que totalizaram até agora US$ 66 milhões e já realizaram investimentos em mais de 60 empresas. Entre elas, a Lupatech, Teikon, Cemar Componentes Elétricos, Digitel Indústria Eletrônica e Artecola Indústrias Químicas.

O sexto fundo, de US$ 30 milhões, lançado em fevereiro deste ano, ainda prospecta empresas com faturamento anual de até R$ 50 milhões. Os recursos foram aportados pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), pela Corporação Andina de Fomento (Cafe), pelos fundos de pensão Petros (Petrobras) e Fapes (BNDES), além da própria CRP.

Os últimos contatos para a estruturação do CRP VII foram feitos pelo próprio diretor durante a conferência "Private Equity Analyst", organizada pela Dow Jones, que todos os anos reúne gestores de fundos e investidores de todo o mundo em Nova Iorque. Durante o encontro, a Associação Brasileira de Private Equity & Venture Capital (ABVCAP) montou pela primeira vez uma programação paralela para apresentar oportunidades de investimentos no Brasil.

"Foi a primeira vez que o setor se apresentou institucionalmente no exterior", comenta Burger. "Antes só os fundos individualmente tomavam iniciativas semelhantes". Segundo ele, fatores como estabilidade macroeconômica, consolidação do mercado de capitais e dos conceitos de governança corporativa, marcos regulatórios mais claros e disponibilidade de capital humano vêm despertando a curiosidade e o apetite dos investidores internacionais pelo Brasil, ao mesmo tempo em que o "deslumbramento" com a China vem caindo devido a questões como ambiente jurídico e instabilidade dos contratos.