Título: Vale espera obter R$ 3 bi com debêntures
Autor: Durão, Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 13/10/2006, Finanças, p. C8

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) estuda fazer uma grande emissão de debêntures não conversíveis superior a R$ 3 bilhões, com vencimento em dez anos, um dos maiores prazos praticados no mercado brasileiro. O papel deverá ter remuneração fixa, sem indexação. No início do ano a Vale fez uma emissão com taxa de 6,25% ao ano, o que poderia ser considerado um parâmetro para esta operação.

Com exceção das debêntures de leasing, emitidas por empresas do setor financeiro, a emissão da Vale já se candidata a ser a de maior valor, no universo das empresas não financeiras, nos últimos dez anos. Este ano, as maiores emissões foram feitas até agora pela AmBev e a Telemar, ambas de cerca de R$ 2 bilhões.

A idéia de emitir debêntures faz parte do pacote de refinanciamento do empréstimo-ponte de US$ 17,7 bilhões que a Vale vai tomar junto a 34 bancos para pagar uma possível compra da Inco, segunda maior produtora de níquel do mundo. O prazo final de adesão dos acionistas da Inco à oferta da Vale foi adiado de 28 de setembro para segunda-feira agora, devido à demora do governo canadense em aprovar o negócio.

A operação de reestruturação da dívida da Vale mobiliza a área financeira da companhia, que vem trabalhando intensamente em vários desenhos de operações com instrumentos longos, como colocação de bônus no mercado externo com vencimentos em vários anos e emissão de debêntures, no mercado doméstico, que poderão acontecer nos próximos três a seis meses.

O diretor financeiro da Vale, Fábio Barbosa, fez questão de ressaltar que a companhia não vai esperar os dois anos de vencimento do empréstimo-ponte para tocar a reestruturação do megafinanciamento. A Vale não quer correr o risco junto às agências de rating de ver rebaixada a sua nota de grau de investimento por conta do alto endividamento.

Andrea Weinberg, analista da Merrill Lynch, destaca em relatório recente que a Vale tem condições de acelerar a redução do débito, pois poderá ter fluxo de caixa/ano de US$ 10 bilhões em 2007 e 2008, por conta dos altos preços de minério de ferro e níquel nos próximos cinco anos.

O aumento do nível de endividamento da Vale vem sendo alvo de observação das agências de risco, já que a empresa conseguiu no ano passado nota de grau de investimento de quatro agências, o que limita sua capacidade de alavancagem.

Para outro analista que não quis ser identificado, a Vale tem "bala" suficiente para pagar este empréstimo, mas a dívida restringe a empresa para fazer qualquer outro grande movimento no mercado interno ou externo. Ela vai ficar imobilizada em termos de grandes negócios nos próximos um a dois anos.