Título: Alvos da mensagem são o próprio antecessor e o PT
Autor: Peres, Bruno
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2012, Política, p. A10

As críticas duras que a presidente Dilma Rousseff fez ontem a Fernando Henrique Cardoso tiveram um objetivo claro: mostrar distanciamento no momento em que seu governo se parece mais com o do ex-presidente tucano do que com o de seu antecessor e mentor, Luiz Inácio Lula da Silva. O público-alvo da mensagem, além de Lula, é o próprio PT, que, mesmo sem fazer barulho, vem se incomodando de forma crescente com os rumos do governo.

Com o aumento do superávit primário das contas públicas, o fim da aposentadoria integral dos servidores públicos, as privatizações de aeroportos, rodovias, ferrovias e, em breve, também de portos, a mudança da regra de correção da caderneta de poupança, a desoneração da folha de pessoal de 15 setores da economia e o enfrentamento, à la Margaret Thatcher, das greves do funcionalismo, Dilma mostrou um pragmatismo que aproxima sua gestão da de FHC.

Não interessa à presidente, entretanto, ser comparada com o ex-presidente tucano, afinal, ela só chegou à Presidência da República graças a Lula, que, sem fazer consultas a ninguém, escolheu seu nome e o impôs ao PT e partidos aliados. Dilma não tem nenhum interesse em romper com o antecessor. Ademais, ela precisa do PT, a segunda maior legenda do país, para governar.

Desde que tomou posse, todavia, a presidente vem distinguindo seus hábitos e ações políticas das de Lula. Além de tomar medidas que diferem do ideário do ex-presidente, Dilma, entre outras coisas, demitiu sete ministros por suspeita de corrupção - todos indicados por Lula -, afastou-se do julgamento do mensalão e diminuiu a influência dos partidos aliados na gestão da Petrobras.

Dilma vinha cultivando boas relações com FHC. Rendeu homenagens à sua gestão, mandou-lhe um bilhete simpático de felicitação pela passagem de seus 80 anos, estabeleceu com ele um relacionamento cívico, inexistente nos últimos anos da era Lula. A presidente acha, contudo, que, com as críticas a Lula, FHC "passou do ponto" e foi "grosseiro". A irritação dela começou na semana passada, quando, num seminário em São Paulo, o ex-presidente teria criticado o país, enquanto dois ex-líderes mundiais - Bill Clinton, dos Estados Unidos, e Tony Blair, da Inglaterra - fizeram elogios.

"Em seu artigo, Fernando Henrique fala como se todos os problemas do país tivessem sido criados por Lula e como se o governo do ex-presidente tivesse sido um fracasso", comentou um assessor.