Título: Periferia do euro fracassa em cumprir metas fiscais
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 04/09/2012, Internacional, p. A13

Mais uma região da Espanha pedindo ajuda de urgência e a "troica" de credores da Grécia aparentemente sugerindo seis dias de trabalho por semana ilustraram ontem como países da periferia da zona do euro enfrentam crescentes dificuldades para cumprir as duras metas de ajuste fiscal.

O governo regional de Andaluzia, a região mais populosa da Espanha, anunciou que pedirá socorro de urgência de € 1 bilhão junto ao governo central, diante de seus problemas de liquidez.

Trata-se da quarta região espanhola a pedir resgate, depois de Catalunha, Valência e Múrcia. O governo de Mariano Rajoy, que criou um fundo especial de € 18 bilhoes para as regiões, está por sua vez sendo empurrado a acelerar um pedido de resgate junto à União Europeia.

A periferia europeia tem dificuldades para cumprir as metas fiscais sem implementar novas medidas de austeridade, que são também politicamente difíceis.

Nos sete primeiros meses do ano, o déficit orçamentário espanhol alcançou 4,6% do PIB, mais alto do que no ano passado. O resultado é atribuído ao aumento de quase 10% nas despesas, principalmente nas transferências para regiões em crise de liquidez.

O governo de Rajoy insiste que baixará o déficit publico de 8,9% do PIB em 2011 a 6,3% neste ano. Mas analistas notam que a Espanha fez a mesma promessa no ano passado, e o resultado foi déficit de 3% do PIB a mais do que a meta.

A Grécia enfrenta por sua vez mais riscos. A troica de credores da Grécia (Fundo Monetário Internacional, União Europeia e Banco Central Europeu) retorna nesta semana a Atenas para decidir se o país fez o suficientemente para obter a liberação da parcela de € 31 bilhões da ajuda internacional.

Mas os dados de julho mostram superávit primário abaixo do previsto e receita fiscal 9% inferior ao esperado, refletindo a fragilidade da economia do país. Apesar de penosas medidas de austeridade, o sentimento comum é de que gregos dificilmente conseguirão baixar o déficit publico de 9,3% atualmente para menos de 3% até 2014.

Nesse cenário, a troica já teria recomendado ao governo grego uma profunda flexibilização no mercado de trabalho, incluindo a ampliação da semana de trabalho para seis dias, segundo notícia de um jornal grego repetida no resto da imprensa europeia ontem. A troica teria também sugerido que as demissões sejam facilitadas.

A Itália também continua no radar. O ministro das Finanças Vittorio Grilli admitiu que o país vai ultrapassar sua meta de déficit público por causa de uma conjuntura econômica pior do que a esperada. A expectativa é de que o PIB italiano caia 2,4% neste ano. Mas o ministro insistiu que o governo não fará corte adicional nas despesas, porque está em linha com as promessas feitas à União Europeia.

A profunda recessão em Portugal igualmente afetou muito as finanças públicas. O déficit público caiu até julho. De um lado, a receita fiscal declinou 3,5%, mas de outro os gastos com salários baixaram significativamente. Analistas acreditam que a troica de credores poderá agora elevar a meta de déficit público de 3,5% para 4,5% do PIB em 2012.

A Irlanda, por sua vez, continua se saindo melhor que os países do sul. O déficit parece sob controle e a expectativa é de o país voltar ao mercado para vender títulos públicos antes dos outros em crise.

Enquanto a periferia da zona do euro afunda na crise da dívida, a Alemanha tem outro problema: o que fazer para melhorar o rendimento de seu excesso de poupança de € 1,2 trilhão, acumulado graças a enormes superávits nas contas correntes.

Thomas Meyer, economista do Deutsche Bank, e Daniel Gros, diretor do Ceps, um respeitado centro de estudos em Bruxelas, sugerem a criação por Berlim de um fundo soberano para o país investir no exterior e ter melhor rendimento.