Título: Aldo e Chinaglia dizem que vão manter candidaturas
Autor: Lyra, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2007, Política, p. A6

Um dia depois de conversarem com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, os dois candidatos à presidência da Câmara dos Deputados - Aldo Rebelo (PCdoB-SP) e Arlindo Chinaglia (PT-SP) - afirmaram ontem não ter condições políticas de recuarem da disputa. Aproveitando a divisão da base governista, um grupo suprapartidário articula o lançamento de candidatura alternativa. "Minha candidatura não me pertence mais", disse Aldo, que recusou a idéia de uma prévia entre os partidos da base aliada para escolha do candidato, porque essa consulta excluiria os partidos de oposição. Aldo acredita ter o apoio majoritário do PFL e do PSDB.

"A agenda que vamos compor no Congresso é complexa. Todos os setores da sociedade têm pautas específicas: os prefeitos, os governadores, os empresários e os trabalhadores. A Câmara não pode ter uma agenda do Executivo, do Judiciário, etc. A agenda tem que ser do país. Exige amplo entendimento, concessão e diálogo. Não podemos ter grupos dispostos a obstruir, ressentidos", disse Aldo. O argumento é contestado por Chinaglia. "Não existe Câmara sem disputa. A não ser que todos virassem governo", afirmou.

No caso do PSDB, não houve manifestação formal, mas lideranças tucanas, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, estariam apoiando o candidato comunista. No PFL, o apoio a Aldo é mais explícito. O líder, Rodrigo Maia (RJ), é um de seus aliados. O candidato do PCdoB diz ter apoio da maioria dos governadores, com exceção dos do PT.

Aldo e Chinaglia disputam o apoio do PMDB, partido que terá a maior bancada de deputados - 89 na nova legislatura. A bancada está dividida e tomará uma decisão em reunião no dia 9.

Chinaglia também afirmou não ter condições políticas de recuo. Como líder do governo, o petista disse estar preocupado com a unidade da base aliada e admitiu se submeter a uma prévia ou até a dialogar com Aldo em busca de um acordo. Mas, negou que esse gesto sinalize recuo. "Quando digo que aceito isso, é porque acredito na viabilidade da minha candidatura", disse. Chinaglia contestou as versões segundo as quais o PSDB apóia seu adversário e disse que o presidente da Câmara não pode ser o candidato do governo, já que diz ser apoiado pela oposição. "Se ele pretende ser o preferido da oposição, deve estar disposto a pagar o preço de não ser o preferido da base aliada", afirmou.

Tanto Aldo quanto Chinaglia negaram ter recebido de Lula convite para ocupar um ministério, em troca da desistência. Negaram, também, que Lula tenha estabelecido um prazo para que entrem num acordo, evitando a disputa em plenário. Os governistas trabalham, porém, com o dia 20 de janeiro como data.

Enquanto os dois governistas não entram num acordo, um grupo de 14 deputados do PPS, PV, PSB, P-SOL, PSDB, PMDB e até do PT articulam o lançamento de um candidato alternativo. Os nomes cotados são Fernando Gabeira (PV-RJ), Raul Jungmann (PPS-PE), Luiza Erundina (PSB-SP) e Carlos Sampaio (PSDB-SP). Suprapartidário, o grupo marcou encontro para segunda-feira, em São Paulo, para discutir uma opção. O objetivo é lançar um candidato independente do governo e comprometido com a ética na política e o resgate da imagem do Legislativo.

Segundo Jungmann, Aldo representa a continuidade do "histórico de corrupção e privilégios" que teria marcado a atual legislatura. Já Chinaglia significa, segundo ele, "subserviência e vassalagem" ao Palácio do Planalto. Além do pernambucano, integram o grupo, entre outros, os deputados Fernando Coruja (PPS-SC), Arnaldo Jardim (PPS-SP), Paulo Renato Souza (PSDB-SP), Carlos Sampaio, José Aníbal (PSDB-SP), Luiza Erundina, Júlio Delgado (PSB-MG), Osmar Serraglio (PMDB-PR) e Ivan Valente (P-SOL-SP).