Título: Lula quer solução para disputa pela presidência da Câmara até o dia 20
Autor: Lyra, Paulo
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2007, Política, p. A6

O Palácio do Planalto vai pedir aos partidos aliados que mapeiem os votos tanto de Aldo Rebelo (PCdoB -SP) quanto de Arlindo Chinaglia (PT-SP) para saber qual é o candidato mais viável para concorrer à presidência da Câmara. Diante da recusa dos dois candidatos em abrir mão da disputa, o governo resolveu fazer um levantamento do favorito entre os partidos que compõem a bancada governista. Lula pediu ao ministro da coordenação política, Tarso Genro, que a situação esteja resolvida até o dia 20.

No caso dos eventuais apoios obtidos junto aos partidos de oposição, o levantamento será por exclusão - quem não votaria em Aldo e quem não vota em Chinaglia. O método, arriscado, já deu errado nas prévias feitas durante a eleição para o Tribunal de Contas de União (TCU). A base indicou o petista Paulo Delgado (MG) mas o plenário elegeu o pefelista Aroldo Cedraz (BA), contando com votos dos próprios aliados.

Um dia depois de reunir-se, em separado, com Aldo e Arlindo, o presidente foi claro na preocupação com a disputa. "A eleição da Mesa Diretora da Câmara é o grande teste para a sobrevivência da coalizão", disse Lula durante reunião com o governador do Mato Grosso do Sul, André Puccinelli (PMDB) e a bancada do PMDB no Centro-Oeste. Para o interlocutor da bancada no encontro, Tadeu Fillipelli (DF), não há como comparar esse momento com a eleição para o TCU. "A coalizão já está formada. Temos que ter maturidade para definir o nosso nome".

Genro vai conversar com os presidentes de partidos e com os líderes partidários para descobrir quem é o melhor candidato. Responsável pela articulação política, ele mesmo não tem certeza de quem tem mais força na bancada governista. Na terça-feira, o ministro deve reunir-se com os integrantes do Conselho Político para debater a questão. Deve procurar também os líderes aliados para discutir o assunto. Partiu de Genro a iniciativa de levar os dois candidatos ao Planalto na noite de quarta.

Lula ouviu de ambos as justificativas para a candidatura e a ponderação das razões para não desistirem. Reforçou que não vai interferir na decisão, mas cobrou, novamente, que haja um candidato de consenso. O levantamento trazido pelos partidos vai ajudar nessa decisão. "O presidente não vai virar para qualquer um dos dois e falar: desista. Mas o mapeamento da base vai ajudar o trabalho de convencimento", confirmou um integrante do governo.

A dificuldade do Planalto em se posicionar pode causar problemas. Deputado experiente, o hoje vice-governador de Mato Grosso do Sul, Murilo Zauith, disse que o PMDB vai esperar uma sinalização do Executivo. "Nós fazemos parte da coalizão de governo. Cabe ao governo mostrar quem é o melhor candidato para consolidar essa parceria", afirmou Zauith.

O prazo do dia 20 para que o impasse se resolva é "metafísico", nas palavras de Tarso Genro. Até lá, o núcleo palaciano espera ter todos os dados disponíveis para trabalhar a candidatura de consenso. É um prazo também para que os dois candidatos reflitam sobre o cenário político. "O presidente Lula nos disse que, ao voltar das férias, espera que estejamos com todas essas questões resolvidas", acrescentou o ministro.

Genro negou que estejam em disputa vagas na Esplanada como mecanismo de compensação para um eventual derrotado. Mas elogiou os dois candidatos e afirmou que eles têm plenas condições de integrar o primeiro escalão. "Têm estatura política para isso. As qualidades antecedem ao anúncio das candidaturas", justificou o ministro. O petista também reconheceu que, por enquanto, a disputa está limitada aos candidatos aliados. Mas espera que a ameaça da oposição de lançar um terceiro nome - no fim do dia, surgiu a anti-candidatura de Fernando Gabeira (PV-RJ) - poderia funcionar como estímulo para que o consenso entre os aliados se dê mais rapidamente.