Título: Perspectivas para renda e ocupação em 2007 também são positivas
Autor: Lamucci, Sergio
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2007, Brasil, p. A3

As perspectivas para a massa real de salários são positivas também para 2007. O rendimento real (acima da inflação) e a ocupação devem continuar em alta, levando a massa a crescer pelo quarto ano seguido. O aumento de renda será um dos principais motores do consumo das famílias, que deve puxar o Produto Interno Bruto (PIB) neste ano ao lado do investimento. O último período de expansão tão continuada se deu entre 1993 e 1997, quando houve cinco anos de avanços consecutivos, num movimento estimulado principalmente pela queda da inflação propiciada pelo Plano Real.

O economista Guilherme Maia, da Tendências Consultoria Integrada, acredita numa expansão de 4,5% da massa real de salários em 2007. Em 2006, a expansão da massa real ficou na casa de 6,5%, favorecida pelo reajuste de 16,6% do salário mínimo e da forte queda da inflação, o que torna mais fácil para as categorias de trabalhadores conseguirem aumentos acima da variação dos índices de preços, observa Maia.

Em 2007, o salário mínimo vai subir 8,6% e a inflação deve ser um pouco mais alta do que em 2006. Com isso, Maia prevê que o rendimento médio deve crescer 2,4%, menos que os 4,1% registrados no ano passado. O crescimento da ocupação deve desacelerar menos, de 2,4% em 2006 para 2,1% em 2007.

Mesmo assim, um crescimento de 4,5% da massa real de salários é um número bastante razoável, de acordo com Maia. As perspectivas favoráveis para o mercado de trabalho são um dos fatores que o fazem projetar uma aceleração do ritmo de expansão do consumo das famílias, de 4,6% em 2006 para 5,2% neste ano, amparado também pela crença de que os juros vão seguir em queda e a o crédito vai continuar a crescer. Com a aposta no crescimento mais forte do consumo, Maia acredita que o Produto Interno Bruto (PIB) deve crescer 3,2% em 2007, um número um pouco melhor que os 2,9% esperados para o ano passado.

O aumento da massa salarial deve favorecer especialmente os setores de bens duráveis e semi e não duráveis, diz ele, que aposta num cenário um pouco melhor para os primeiros, justamente porque as condições de crédito devem seguir positivas.

A questão é que as perspectivas são bem melhores para o consumo do que a produção desses bens, nota o economista-chefe do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Edgard Pereira. Com o câmbio valorizado, a substituição de produção doméstica por produtos importados tende a continuar, diz ele.

Pereira mostra preocupação com esse quadro, em que o consumo cresce acima da produção, com aumento da participação de bens importados no mercado nacional. Se a indústria local não cresce, num segundo momento o próprio aumento de renda vai perder força, afirma ele. As empresas deixam de contratar ou passam a demitir, o que tira dinamismo da massa salarial no médio e longo prazo. O pior, segundo ele, é que os mais prejudicados têm sido os setores mais intensivos em trabalho, como os de têxteis e calçados. "A valorização do câmbio tem como efeito líquido desestruturar a industria", diz Pereira. (SL)