Título: Oposição reage à suposta operação de blindagem articulada por Bastos
Autor: Ulhôa, Raquel e Basile, Juliano
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2006, Política, p. A6

Os presidentes dos principais partidos de oposição devem se reunir hoje em Brasília para discutir uma reação conjunta contra a suposta operação de blindagem do presidente Lula no caso do dossiê contra tucanos.

A denúncia foi feita por reportagem da revista "Veja", segundo a qual o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, estaria por trás de uma articulação para livrar Freud Godoy, ex-assessor especial de Lula, de qualquer envolvimento. Na versão da revista, Thomaz Bastos teria formulado estratégia para que o caso não chegasse ao presidente Lula. O ministro teria indicado advogado a Freud Godoy, ex-assessor especial da Presidência, citado num depoimento por Gedimar Passos, um dos petistas que foi preso pela Polícia Federal com dinheiro que seria usado para a compra de dossiê contra José Serra. Thomaz Bastos também teria, segundo a reportagem, interferido junto à Superintendência PF em São Paulo e atuado para convencer Gedimar a recuar de seu depoimento inicial, o que acabou ocorrendo.

O ministro negou, por sua assessoria, qualquer interferência no caso. O Ministério da Justiça informou que Thomaz Bastos não indicou advogado para Freud e não formulou qualquer estratégia jurídica ou política para convencer Gedimar a recuar. Ainda segundo a sua assessoria, o ministro não conversou com a Superintendência da PF em São Paulo, e não fez à PF paulista sequer a pergunta "Isso respinga no presidente?" A Superintendência da PF também contestou a versão da revista, qualificando-a de "fantasiosa".

Mas, os desmentidos do ministro e da PF não convenceram a oposição. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), afirmou que uma das propostas a serem analisadas hoje pela oposição é pedir à Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) que indique um representante para acompanhar as investigações do caso do dossiê, já que a credibilidade do ministro da Justiça e da PF estão sendo questionadas. Para o tucano, as investigações também devem ser acompanhadas de perto por um parlamentar. Além de Tasso, devem ser reunir no início da noite de hoje os presidentes do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), do PPS, deputado Roberto Freire (PE), e do PMDB, deputado Michel Temer (SP) - convidado a participar embora seu partido seja dividido.

"O que está acontecendo no caso do dossiê falso é uma nova versão do que houve com o caseiro Francenildo Costa, que fez denúncias contra o ex-ministro Antonio Palocci e teve seu sigilo bancário quebrado pelo governo, que buscava incriminá-lo. Desta vez, armaram uma tramóia para livrar Freud e jogar a culpa no delegado", disse Tasso. "A responsabilidade toda é do ministro Thomaz Bastos. Ele atua como advogado criminal do governo e vem conseguindo enganar e manter a linha. Agora, ele perdeu totalmente a credibilidade", acusou o presidente do PSDB.

Na reunião, a oposição também irá discutir medidas jurídicas no episódio envolvendo o apoio do governador reeleito do Mato Grosso, Blairo Maggi, ao presidente Lula. Maggi manifestou apoio a Lula depois de receber a promessa de que receberia a liberação de R$ 1 bilhão para o seu estado e mais R$ 2 bilhões em créditos para o agronegócio. Para Tasso Jereissati, "é crime eleitoral explícito".