Título: Ação trabalhista de R$ 574 mi
Autor: Martins, Victor
Fonte: Correio Braziliense, 16/11/2010, Economia, p. 14

Valor de mercado da instituição poderá ser reduzido à metade, caso seu controle seja vendido nos próximos dias, como quer o governo

O valor do Banco Panamericano no mercado, estimado em torno de R$ 1 bilhão, pode cair pela metade. Tudo porque a instituição tem uma dívida superior a R$ 574,4 milhões, a maioria de processos trabalhistas e na área cívil. Segundo o balanço da instituição disponibilizado pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), com data de 30 de junho, os próprios gestores já afastados da administração admitiam uma perda de 96,4% desse montante, distribuído entre 17.420 processos.

O Grupo Silvio Santos conta em conseguir vender bem o PanAmericano para pagar parcela significativa da dívida de R$ 2,5 bilhões, contraída com o Fundo Garantidor de Crédito (FGC) para evitar a quebra da instituição. O grupo perdeu, em 2005, um comprador de peso, o Citibank. O próprio Silvio Santos disse que não vendeu o banco porque achava que o valor oferecido pela instituição norte-americana, de R$ 1,3 bilhão, era baixo e, sobretudo, porque o Citi avisou que demitiria pelo menos a metade dos 5 mil funcionários do PanAmericano. Há rumores que o Citi estaria interessado em ficar com o que sobrou do banco, mas as ações seriam arrematadas a um preço muito baixo.

A favor de Silvio Santos, neste momento, há o fato de que até o Banco Central acredita que o dono do Sistema Brasileiro de Televisão (SBT) nunca pisou no banco. Portanto, estaria alheio às falcatruas comandadas por Rafael Palladino, ex-superintendente do PanAmericano e parente de Íris Abravanel, mulher de Silvio; Wilson Roberto de Aro, ex-diretor Financeiro; e Adalberto Saviolli, ex-diretor de Crédito do banco.

Técnicos do BC também ressaltam que Silvio Santos tem tempo para fazer o negócio, pois conseguiu três anos para começar a pagar a dívida com o FGC, além de outros sete para a sua quitação. Durante esse tempo, a poeira poderá baixar e os novos executivos conseguirem uma boa negociação. A credibilidade poderá vir da Caixa Econômica Federal, que arrematou 49% das ações com direito a voto do PanAmericano.

Minoritários Com cerca de 10% das ações do PanAmericano, os acionistas minoritários não devem se apavorar com a queda acentuada dos preços das ações da instituição na bolsa de valores. Se correrem para vender agora, sob o impacto das fraudes no banco, perderão muito dinheiro. Segundo os analistas de mercado, somente nos últimos sete dias, os papéis perderam 37,29% de seu valor, cotados a R$ 4,76. Portanto, o melhor é esperar, pois quem fizer oferta pelo controle do banco terá de pagar o mesmo valor por ação para os minoritários. ¿ Vender antes significa realizar o prejuízo, já que, agora, o acionista possui a mesma quantidade de ações, com a diferença de que o preço delas está em queda¿, explicou um especialista.

De qualquer forma, o novo controlador não se livrará do passivo trabalhista. Isso foi, por exemplo, o que aconteceu no Programa de Estímulo à Reestruturação do Sistema Financeiro Nacional (Proer). A parte boa dos bancos amparada pelo programa foi repassada para o comprador, enquanto a parte podre foi liquidada pelo BC. Nesse caso, encontram-se o Bamerindus, comprado pelo HSBC, e o Nacional, arrematado pelo Unibanco. Em todos os contratos foi ressaltado que, se o passivo trabalhista superasse o estimado, o débito deveria ser honrado pela massa falida.