Título: Vale pode cortar plano de investimento de 2013 em 20%
Autor: Durão , Vera Saavedra
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2012, Empresas, p. B11

O novo plano de investimento da Vale para 2013 é previsto pelo mercado entre US$ 17 bilhões e US$ 17,2 bilhões, devendo sofrer corte de 20% ante os US$ 21,4 bilhões anunciados para 2012. O ajuste, projetado por analistas do Santander e do Goldman Sachs, é consequência da queda do preço do minério. A commodity responde por 72% da receita da empresa, incluindo pelotas. Ontem, foi cotada a US$ 95,50 no spot chinês, o piso do ano até agora.

A direção da Vale deve divulgar o novo orçamento em novembro, no "Vale"s Day", em Nova York. Para Felipe Reis e Marcelo Aguiar, analistas dos dois bancos, não deve anunciar cortes abruptos ou engavetamento de alguns dos 21 projetos orgânicos em desenvolvimento na companhia e já aprovados pelo conselho. O destaque da lista é o S11D, Serra Sul, e sua logística, considerado "intocável" por Murilo Ferreira, presidente da companhia.

A Vale, segundo entendimento de Reis e Aguiar, deve cortar capex (investimento) de manutenção e gastos em Pesquisa & Desenvolvimento (P&D) e manutenção [de projetos], itens administráveis. A perspectiva de "cortar na carne" só será viável se o preço do minério continuar caindo por um bom período de tempo imprevisto, arriscam.

Aguiar acredita ser possível haver mais lentidão no ritmo de projetos, como o de potássio de Rio Colorado, na Argentina, avaliado em quase US$ 5 bilhões, no qual a companhia já dispendeu US$ 1 bilhão.

Em relatório sobre a companhia, Reis levantou os 21 projetos estratégicos em andamento na Vale, envolvendo minério, carvão, cobre, níquel, potássio, energia, aço e logística, cujo investimento total soma US$ 57,6 bilhões. Até agora, a empresa já investiu US$ 14,7 bilhões desse montante. Falta ainda aplicar US$ 42,8 bilhões em projetos que entrarão em operação até 2016. Nos cálculos de Reis, a Vale vai precisar dispender US$ 11 bilhões por ano, nos próximos quatro anos, para finalizar estes investimentos, em falar em gastos com manutenção.

No ambiente atual de retração do minério, a perspectiva é da Vale ter de recorrer a dívida para terminar os projetos ou, dependendo do cenário, congelar alguns. Hoje, as apostas do mercado e mesmo das mineradoras são de que o minério se recupere no final de 2012 ou em 2013 caso as minas da China, com custo marginal de produção, desliguem sua produção ou reduzam a oferta do produto. Isto abriria espaço para a recuperação do preço fortalecendo as gigantes do mercado transoceânico: BHP Billiton, Vale e Rio Tinto.

Nesse ambiente incerto, os analistas trabalham com perspectiva de forte redução do caixa operacional dessas mineradoras neste ano e, consequentemente, dos investimento de US$ 21,4 bilhões para o patamar de US$ 17 bilhões para se adaptar a um resultado operacional (Ebitda) menor. Isso vai atingir também o pagamento de dividendos, estimado em US$ 6 bilhões para este ano e US$ 4 bilhões em 2013.

As projeções de Ebitda da Vale em 2012 ficam entre US$ 19,7 bilhões e US$ 20 bilhões, segundo Santander e Goldman, bem menos que US$ 32 bilhões e US$ 21,7 bilhões de antes. Em 2013, projetam US$ 25,7 bilhões e US$ 26,1 bilhões, respectivamente. O Santander estima preço médio da tonelada do minério na China de US$ 120 este ano e US$ 129 em 2013. O preço médio de venda da Vale, incluindo desconto, estimado pelo Santander, é de US$ 95 neste ano e US$ 104 em 2013.