Título: Dólar ganhará força sem rolagem de swap
Autor: Campos , Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 29/08/2012, Finanças, p. C2

O pregão de ontem no mercado de moedas foi um dos mais movimentados do mês. Descolado do câmbio externo, o dólar comercial encerrou com alta de 0,64%, a R$ 2,043. Não parece grande coisa, mas essa é maior valorização percentual diária do mês. Algo que ilustra bem o marasmo que pautou agosto.

A explicação para a alta é a mesma dada no fim de julho - quando o dólar também subiu: a não rolagem dos contratos de "swap" cambial (que equivalem à venda de dólar futuro) pelo Banco Central (BC).

No fim de julho, o BC optou por não rolar esses swaps colocados no mês anterior, quando atuava para minimizar o movimento de alta da moeda americana que ameaçava passar da linha de R$ 2,10.

Em 3 de setembro vencem cerca de US$ 4,1 bilhões em contratos de swaps. Como o BC não deve rolar esse montante, o efeito líquido é de compra de dólares.

A percepção de que o BC optará pelo vencimento foi reforçada na semana passada, quando a autoridade monetária ofertou swaps reversos (que equivalem à compra de dólar futuro) no dia em que o dólar ameaçava perder a linha de R$ 2.

A atuação deu mais força à avaliação de que o câmbio aqui opera dentro de uma banda com piso em R$ 2 e teto em R$ 2,10.

Segundo o diretor-executivo da NGO Corretora, Sidnei Nehme, ao optar por não fazer a rolagem dos swaps, o BC enxuga um pouco a liquidez e força uma mudança de degrau da taxa. "Penso que o BC não sente desconforto se subir um pouco mais", diz.

Ainda de acordo com o especialista, o fluxo cambial também influencia nesse dólar mais caro. Os saldos estão consistentemente negativos, com saídas nas contas comercial e financeira. Em agosto, até o dia 21, o resultado era negativo em US$ 1,069 bilhão. Hoje, saem os dados até 24 de agosto.

Além dessa dúvida sobre a rolagem ou não dos swaps - o BC tem até o dia 31 para se decidir -, a semana marca a tradicional briga entre comprados e vendidos para rolagem ou liquidação dos contratos futuros. Evento que soma instabilidade ao mercado.

Já os negócios com juros na BM&F mostraram que voltou a ganhar força a corrente que espera a Selic abaixo de 7,5%. O contrato de maior giro foi novamente o de vencimento em janeiro de 2013, que cedeu de 7,29% para 7,25%, a taxa projetada no boletim Focus para o fim do ano.

O sócio-gestor do Banco Modal, Luiz Eduardo Portella, avalia que o Banco Central vai optar hoje por garantir margem de manobra no encontro do Copom de outubro. "Até lá vão sair muitos indicadores de atividade relevantes. Não faz sentido o BC se comprometer antes", disse. Ele avalia que ainda há dúvidas sobre a efetiva retomada da atividade econômica no Brasil. O Modal projeta dois cortes de 0,50 ponto percentual cada, o que levará a Selic para 7% ao ano no fim do atual ciclo.

"As duas primeiras semanas de setembro serão de bastante volatilidade", aponta Portella. Para ele, a agenda carregada por encontros de bancos centrais na Europa e nos Estados Unidos, junto com a divulgação de dados como desemprego nos EUA e o PIB da zona do euro, no exterior, mais produção industrial e IPCA, no Brasil, serão determinantes para que o mercado ajuste as apostas para a Selic.

Também chamou a atenção de operadores a maior quantidade de negócios com opções de juros, instrumento pelo qual os agentes assumem o direito de comprar ou de vender um determinado contrato a partir de uma cotação previamente acertada.

No caso, a movimentação foi mais intensa entre as instituições financeiras ligadas a empresas.

Segundo operadores, esses investidores assumiram posições que sinalizam novas quedas da Selic após o Copom de agosto, sinalizando que há uma corrente no ambiente corporativo projetando um ciclo de afrouxamento monetário mais longo.

Essa atuação foi influente inclusive para sacramentar a queda dos juros dos últimos dois dias.