Título: Cid impõe estilo mais conciliador que o de Ciro
Autor: Ulhôa, Raquel
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2006, Política, p. A7

Com a eleição do irmão Cid Gomes (PSB), 43, para o governo do Ceará, o ex-ministro Ciro Gomes (PSB), 48, disse considerar cumprida sua responsabilidade com o Estado, como se passasse o bastão para um substituto na política cearense. A continuidade política dos Ferreira Gomes pode estar garantida, mas o estilo deve mudar. Para alguns amigos, Cid tem mais habilidade política e é mais conciliador que o irmão.

Há quem discorde. "A única diferença entre eles é que um (Cid) é mais tímido e introspectivo, enquanto o outro (Ciro) é mais extrovertido", define o presidente nacional do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), que conhece bem a família. Ciro, no entanto, ressalta diferenças no jeito de fazer política. "Ele reuniu nove partidos em torno de sua candidatura ao governo, juntando o PSB, a PT, PC do B, PMDB e outros. Eu jamais conseguiria essa aliança", disse.

Eleito deputado federal com votação recorde, Ciro tem atuação política marcada por um destempero verbal, do qual já mostrou arrependimentos. O temperamento impulsivo de Ciro voltou a aflorar nesta campanha eleitoral. Em comício, ele disse, sobre o governador Lúcio Alcântara (PSDB), então principal adversário do irmão: "O governante que hoje está no Ceará só fez força para comprar a consciência, para distribuir dinheiro para politiqueiro filho da p...". O xingamento foi parar no horário eleitoral de adversários e Ciro foi à televisão pedir desculpas. "Me excedi nas palavras e me arrependo pelo que aconteceu", afirmou.

Já Cid, considerado bom negociador até por adversários, procurou ser moderado nas críticas a Lúcio durante a campanha, embora considere seu governo "retrocesso" em relação ao projeto de modernização do Ceará, implantado em 1987, no primeiro governo de Tasso, do qual Ciro foi líder na Assembléia Legislativa e um dos aliados mais leais. A ligação de Tasso e Ciro supera divergências políticas nacionais. Segundo amigos, Ciro prometeu ao pai, o ex-prefeito de Sobral, José Euclides Ferreira Gomes, pouco antes de sua morte, nunca brigar com Tasso. Cid não é tão próximo do tucano, mas manifesta admiração por sua liderança política e afirma que irá procurá-lo em busca de "ajuda institucional", assim como aos demais parlamentares do estado.

Os irmãos Cid e Ciro estão empenhados na campanha pela reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, mas o papel de "pit bull" cabe ao mais velho. Ciro chama de "aprendizes de mafiosos" os petistas envolvidos na compra do dossiê contra tucanos e acusa o PSDB pela "armação". Fala em "hipocrisia" da elite política brasileira e "provincianismo inescrupuloso da casta paulista". Cid chama o candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, de conservador e acha que deve ser real a preocupação com novas privatizações em um eventual governo tucano. "A essência do governo Fernando Henrique Cardoso foi aumentar a carga tributária e vender o patrimônio público", disse.

Ambos tiveram trajetórias políticas ascendentes. Ciro foi deputado estadual aos 24 anos, prefeito de Fortaleza aos 30 e governador aos 32. Deixou o governo para assumir o Ministério da Fazenda no governo Itamar Franco. Disputou a Presidência da República em 98 (PPS) e em 2002 (PSB). Foi ministro da Integração Nacional do governo Lula e hoje admite a possibilidade de ser alternativa à sucessão de Lula em 2010. Cid expõe o "orgulho" do irmão e, embora considere prematuro falar de 2010, afirma: "Ele é vocacionado, competente. Não tenha dúvida de que ele será um grande presidente da República".

Ciro elogia a capacidade administrativa do irmão e afirma que Cid adotará medidas "criativas e ousadas" para garantir o desenvolvimento do estado, assim como fez na Prefeitura de Sobral. Engenheiro Civil, Cid foi eleito deputado estadual em 1990 e reeleito em 94. Aos 32 anos, tornou-se o mais jovem presidente da Assembléia Legislativa, pelo PSDB. Em 96, foi eleito prefeito de Sobral e reeleito em 2000 (PPS). Escolhido o melhor prefeito do Estado em 97, 98 e 99. Em 2005, já no PSB, mudou para para Washington (EUA), onde exerceu a função de consultor do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Cid é pai de Rodrigo, de 8 anos, e casado com Maria Célia Habib. Os dois têm outro irmão, Ivo, deputado estadual, e uma irmã, Lia, médica.

O pensamento econômico se assemelha. Em 2002, na disputa presidencial, o ex-ministro foi acusado de ameaçar com calote da dívida pública, por defender renegociação, proposta apoiada pelo futuro governador. "A coisa mais normal do mundo é reescalonar uma dívida. A dívida brasileira vence em 27 meses - isso é um perfil absolutamente incompatível", disse Cid. Para ele, é exatamente na rubrica "serviços da dívida" que o governo deve cortar gastos. Ele defende uma redução acelerada dos juros - "em vez de baixar 0,25%, baixar 1%" - uma meta de crescimento, começando com 5% no próximo ano, além de um teto de inflação. Segundo ele, o país "convive tranquilamente com 5% ou 6% de inflação".