Título: Transferência de votos garante favoritismo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2006, Política, p. A12

A transferência de votos para o segundo turno tem-se revelado um instrumento eficaz na maioria dos Estados onde há segundo turno. Em Pernambuco, no Rio Grande do Sul, Pará e Rio de Janeiro, as alianças mostraram resultados nas primeiras pesquisas após o primeiro turno. Em Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), que recebeu o apoio do terceiro colocado, o petista Humberto Costa, virou a eleição: saltou para 56% das intenções de voto, ante 36% de Mendonça Filho (PFL). Na primeira rodada, o pefelista conseguiu 39% de votos válidos e o socialista, 33,8%. Humberto Costa teve 25,1%.

No Rio Grande do Sul, a tucana Yeda Crusius recebeu o apoio do governador Germano Rigotto (PMDB), que ficou em terceiro lugar na eleição e ampliou a vantagem sobre o petista Olívio Dutra. Yeda apareceu este final de semana com 61,7% das intenções de voto, o que representa praticamente a soma entre a sua votação e a de Rigotto no primeiro turno, quando a tucana teve 32,9% e o pemedebista 27,1%. O petista Olívio Dutra recebeu 33,4% das preferências na pesquisa, pouco acima dos 27,4% que recebeu no primeiro turno.

No Rio, Sérgio Cabral (PMDB) também aumentou a vantagem que abriu sobre Denise Frossard (PPS) no primeiro turno, quando teve 41,4% dos votos, ante 23,8% da candidata do PPS. O pemedebista recebeu o apoio do terceiro colocado, Marcelo Crivella (PRB), e agora soma 56%. Denise Frossard passou para 32%.

No Pará, a candidata do PT Ana Júlia Carepa recebeu o apoio do PMDB, que ficou em terceiro lugar na eleição estadual, e agora está empatada tecnicamente com o tucano Almir Gabriel. Segundo pesquisa Vox Populi divulgada domingo, Ana Júlia tem 45% e Almir 46%. De acordo com pesquisa Ibope, Ana Júlia está dez pontos percentuais à frente do tucano. Consegue 53%, ante 43% do tucano

Onde a transferência de apoio não existiu, a tendência foi o resultado do primeiro turno ser confirmado na primeira pesquisa do segundo turno. Em Santa Catarina, a primeira pesquisa Ibope/RBS TV mostrou a liderança de Luiz Henrique da Silveira (PMDB), que tenta a reeleição, com 52% das intenções de voto, enquanto Esperidião Amin (PP) apareceu com 38% das intenções. O pemedebista teve 48,9% dos votos no primeiro turno e o postulante do PP, 32,8%.

Se comparada à última pesquisa feita pelo Ibope, um dia antes da eleição do primeiro turno, essa nova apuração mostra que os eleitores do terceiro colocado, José Fritsch (PT), que teve 14,3% dos votos, estão por enquanto divididos entre Silveira e Amin. Em relação à pesquisa do dia 30 de setembro, Amin subiu sete pontos, assim como Silveira.

O PT catarinense vinha desde o dia 3 de outubro tentando uma negociação com Amin para que este declarasse voto em Lula, e em troca garantisse o apoio formal do PT. Mas sem uma definição de Amin, que temeria nessa aliança perder votos tucanos que possivelmente recebeu no primeiro turno, o PT divulgou nota no fim da semana passada não indicando apoio formal a nenhum dos candidatos.

Pesa contra o apoio do PT ao pemedebista o fato de este desde o primeiro turno ter constituído uma aliança com o PSDB, tendo o senador tucano Leonel Pavan como seu vice, e com o PFL do senador Jorge Bornhausen.

A mesma situação ocorre no Paraná, onde Roberto Requião (PMDB) ainda não conseguiu consolidar o apoio do PT, que ficou em terceiro lugar na eleição local. Na primeira pesquisa do segundo turno, o atual governador pemedebista terminou tecnicamente empatado com o senador Osmar Dias (PDT). O primeiro recebeu 46% das intenções de voto e o segundo, 45%.

Na Paraíba, onde a eleição já apresentou uma polarização muito forte no primeiro turno, não houve busca de apoios para o segundo turno e o governador tucano Cássio Cunha Lima (PSDB) apresenta uma pequena vantagem sobre o desafiante do PMDB, senador José Maranhão. É a mesma situação do Rio Grande do Norte, Vilma Faria (PSB) apareceu em primeiro lugar na pesquisa da Brasmarket, dentro da margem de erro em relação ao seu adversário Garibaldi Alves Filho (PMDB).

A formalização ontem, no Rio, do apoio de boa parte da cúpula do PSDB ao senador Sergio Cabral (PMDB) fortaleceu ainda mais a candidatura do pemedebista ao governo do Estado. Ele chega ao segundo turno tendo a seu lado o terceiro (Marcelo Crivella), o quarto (o petista Vladimir Palmeira) e o quinto colocados (Eduardo Paes - PSDB) na eleição em 1º de outubro.

Denise Frossard (PPS), que disputa com Cabral o segundo turno, permanece apenas com o apoio de parte do PV e do PFL, o que não é desprezível pois conta com a força eleitoral do prefeito do Rio, Cesar Maia. Ela venceu no primeiro turno no município do Rio de Janeiro e, segundo o prefeito, "vai vencer outra vez" na Capital. Mas a diferença foi pequena: Denise recebeu 1,116 milhão de votos enquanto Cabral 1,101 milhão.

Para o prefeito do Rio, ainda é cedo para previsões. Maia disse ao Valor que "para o eleitor a campanha começou na TV dia 11 à noite. As pesquisas conhecidas foram feitas antes disso", o que na distorce as previsões. Cabral recebeu ontem não só o apoio de Eduardo Paes como de Marcello Alencar, presidente de honra do PSDB no Rio. Este mudou de posição, pois já foi inimigo declarado de Cabral e chegou até acusá-lo de enriquecimento ilícito quando era governador do Estado e Cabral deputado estadual e presidente da Assembléia Legislativa.

Também estiveram presentes ao encontro ontem de manhã em hotel no Leblon, zona sul do Rio, atual o vice-governador, Luiz Paulo Conde, o ex-prefeito de Vitória (ES), Luiz Paulo Velloso Lucas, além do deputado federal Márcio Fortes. Não compareceu, entretanto, Anthony Garotinho que apóia Cabral e o candidato tucano a presidência, Geraldo Alckmin. Como também o comando tucano fluminense não permitiu a presença de Zito, ex-prefeito de Duque de Caxias e deputado federal mais votado no Rio e a filha, a deputada federal Andrea Zito. Segundo o deputado o comando tucano alegou que sua presença seria precipitada. O partido se reúne hoje no Rio para discutir a adesão a Cabral.

Se a vitória de Yeda se confirmar no Rio Grande do Sul, ela sucederá um governo ao qual o seu partido foi coligado até pouco mais de um ano antes da eleição. Em 2002, o então tucano e ex-petista Antônio Hohldfeldt foi eleito vice-governador na chapa liderada pelo peemedebista Germano Rigotto, mas em 2005 ele deixou o PSDB para se filiar ao PMDB.

A provável vitória da tucana também representará uma mudança apenas parcial em relação à administração de Rigotto. Com um discurso político semelhante, que destaca a busca do desenvolvimento econômico baseado num ambiente favorável para os investimentos e os negócios privados, ela procura se apresentar como uma gestora mais moderna e mais eficiente para enfrentar a crise das finanças públicas do Estado. (Vanessa Jurgenfeld, de Florianópolis, Heloisa Magalhães e Francisco Góes, do Rio, Sérgio Bueno, de Porto Alegre, e César Felício, de São Paulo)