Título: Produção industrial mostra retomada lenta da economia
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2012, Opinião, p. A14

A produção industrial cresceu pelo segundo mês consecutivo em julho, reafirmando uma mudança esperada da economia rumo ao crescimento. Na comparação com o mês anterior, a produção avançou 0,3% em julho e 0,2% em junho, números ainda modestos, mas que indicam que o fundo do poço ficou para trás. Segundo o IBGE, a indústria recua apenas 0,1% na média móvel trimestral, enquanto que no acumulado do ano o tombo é expressivo (3,7%) e só superior ao da comparação com julho de 2011, de 2,9%.

A recuperação ainda é incipiente e sua magnitude, incerta. Diferentemente da retomada anterior, o setor industrial sofre a poderosa pressão contrária do setor externo, com exportação em queda e importação em alta. Combinados os dados da produção industrial com os do Produto Interno Bruto do segundo trimestre, fica claro que a derrubada da produção industrial teve forte impacto da retração global. Ela, por um lado, deprimiu suas vendas para quase todos os mercados, e, por outro, pela concorrência no mercado doméstico de bens importados com preços aviltados pelo acúmulo de estoques globais. Na ausência de alguma desvalorização cambial, que afinal ocorreu, os resultados seriam piores.

Não é possível subestimar o impacto direto e indireto do setor externo sobre a indústria. Com exceção de um resultado encorajador das exportações para os Estados Unidos no acumulado do ano (11,7%), todos os outros mercados para os produtos brasileiros estão encolhendo - inclusive a China, que só compra commodities do país. Para a União Europeia, as exportações recuaram 8,4% nos oito primeiros meses do ano, mas o fator relevante, ausente da recuperação que se seguiu à crise de 2008, é que a Argentina, a quarta maior compradora, reduziu em quase um quinto seu consumo de bens brasileiros.

Olhados em conjunto com o PIB, os números do comércio exterior tiveram um peso mais que significativo. Enquanto que a economia cresceu apenas 0,6% no primeiro semestre, o setor externo contribuiu negativamente com 0,7%, segundo cálculos de economista-chefe do Banco ABC Brasil, Luis Otávio de Souza Leal. Isso foi produto de um recuo de 2,9% das exportações e do avanço de 1,9% das importações no período.

A ausência do impulso externo é relevante para a economia como um todo e mais ainda, para a indústria. Até a década passada, pelo menos, com a economia bem mais fechada, quando a indústria encontrava situação adversa para exportar, deslocava sem muita dificuldades a produção para o mercado doméstico. Por vários motivos, esse mecanismo já não funciona e um deles é que fatia importante do mercado em vários segmentos não está disponível - foi tomada por bens importados competitivos.

A reação da indústria, sem contar com o apoio externo, será lenta e gradual. Ela começou graças aos incentivos tributários dados pelo governo para a indústria automobilística e outros setores, como mostram os dados da produção de julho. Apenas 12 dos 27 ramos industriais tiveram recuperação, que foi puxada pela expansão de 4,9% de veículos automotores. Os efeitos desse crescimento começam a se irradiar, como provam o avanço de borracha e plástico (3,2%) e químicos (1,8%) e deverão em breve puxar também os bens de consumo intermediário, que cresceram 0,5% na comparação de julho com junho. A produção da indústria automobilística tem um viés desfavorável nos indicadores da produção industrial. Ao contrário de outros setores, o setor automotivo vem de nove anos seguidos de crescimento, com um recorde de produção em 2011 de 3,4 milhões de unidades. Qualquer ritmo menos frenético e mais "normal" de produção pesa negativa e significativamente nos índices.

Por enquanto, o efeito do incentivo aos carros aparece menos na produção e mais na desova dos estoques, mas isso deve mudar ao longo dos próximos meses. As montadoras não esperavam expansão de produção neste ano, agora prevêem crescimento de 4%.

A produção de bens de capital reagiu e cresceu 1% em julho, ainda pouco comparado às queda de 12,1% no acumulado do ano. Para esse setor, também não se espera uma recuperação rápida dos investimentos enquanto houver razoável capacidade ociosa na indústria. É possível chegar à taxa de crescimento de 4% no curto prazo, algo bastante razoável se considerada a crise global. Mesmo em tempos de crescimento, o país, na média, não cresceu muito acima disso.