Título: Clientes de alta renda migram para a poupança
Autor: Bittencourt , Angela
Fonte: Valor Econômico, 05/09/2012, Clientes de alta renda migram para a poupança, p. C12

Não dá para dizer que o primeiro semestre de 2012 foi monótono no mercado financeiro. Com o ciclo de afrouxamento monetário em curso, o governo bancou a mudança na regra de remuneração da caderneta de poupança e abriu caminho para prosseguir com os cortes da taxa Selic. A taxa básica estreou o patamar inédito de um dígito. O mercado cambial não foi poupado de intervenções do Banco Central e do Ministério da Fazenda. Agitação não faltou.

Em meio a tudo isso, as duas modalidades de aplicações mais expressivas em valores continuam sendo os depósitos a prazo e os depósitos de poupança, aponta censo semestral divulgado ontem pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC) - o censo não leva em conta os saldos em fundos de investimento, que não são garantidos pelo FGC. Sendo que, de dezembro do ano passado para junho deste ano, os depósitos a prazo recuaram de cerca de R$ 714 bilhões para R$ 686 bilhões, enquanto a poupança cresceu de R$ 420 bilhões para aproximadamente R$ 449 bilhões. Nesses dois casos, a maioria dos aplicadores está nas faixas dos menores valores financeiros.

No entanto, durante o primeiro semestre deste ano, o crescimento do saldo em contas de caderneta de poupança que possuem valores depositados superiores a R$ 10 mil foi de R$ 31 bilhões. Significa que, no período, quase 300 mil novos clientes, chamados genericamente de alta renda pelos bancos, investiram na tradicional aplicação.

Em contrapartida, as contas com saldo entre R$ 100 e R$ 10 mil perderam R$ 2,1 bilhões, com a saída de mais de 1 milhão de clientes. Geralmente, os correntistas com esse perfil são atendidos no segmento de varejo das grandes instituições financeiras. Na faixa de contas com saldo de até R$ 100 foram contabilizados cinco milhões de novos clientes, mas com saldo médio de apenas R$ 15.

A atração para a poupança dos investimentos de uma faixa de clientes com maior poder aquisitivo não chega a ser surpreendente. O sistema de tributação das aplicações financeiras de renda fixa é complexo e foi implantado no período de juros reais elevados e graves desequilíbrios macroeconômicos.

A queda dos juros tornou evidente, para os investidores, o custo da tributação. Como as alíquotas variam conforme o prazo da aplicação, o investidor parece começar a dar preferência para as alternativas mais simples, já que apenas os ganhos com o menor imposto não compensam os riscos de alongar as aplicações em instrumentos mais complexos.

Outra forte indicação da busca por aplicações conservadoras e sem o custo do Imposto de Renda é dada pelo crescimento expressivo de 40% de clientes que passaram a investir em Letras de Crédito Imobiliário (LCI). Assim como a poupança, os rendimentos dos títulos são isentos.

Os números do censo do FGC parecem esclarecer um pouco mais os movimentos dos investidores, depois do período que combinou fortes reduções dos juros, ajustes na taxa de câmbio e incertezas a respeito do cenário econômico.

Quando se olha os números globais, os registros do FGC mostram que as aplicações financeiras convencionais ficaram estacionadas no patamar de R$ 1,4 trilhão, apesar do aumento de aproximadamente 5 milhões de detentores de aplicações como depósitos a prazo, depósitos à vista, letras hipotecárias, cadernetas de poupança e letras de crédito imobiliário.

O censo semestral do FGC indica que em junho deste ano o sistema financeiro tinha cerca de 178 milhões de titulares de créditos que correspondem a ativos financeiros. Em dezembro do ano passado, eram 174 milhões de titulares. Cada cliente pode ter aplicações em mais de um produto.

Levando em conta o fato de o FGC garantir até R$ 70 mil no máximo do total aplicado por cada titular contra uma mesma instituição ou contra todas as instituições de um mesmo conglomerado financeiro, de dezembro para junho os créditos assegurados pelo fundo avançaram de R$ 529,7 bilhões para R$ 544,7 bilhões ou de 39% para 40,02% do total, informa o censo da instituição publicado pelo Banco Central. A alta foi de 2,8%, aproximadamente equivalente aos juros líquidos no período.