Título: Brasileiros partem para o ataque
Autor: Lucchesi, Cristiane
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2007, Finanças, p. C1

Após os fortes aportes de capital dos bancos de investimento estrangeiros no país -que culminaram com a compra do Pactual pelo UBS por até US$ 2,5 bilhão e de 50% da Hedging-Griffo pelo Credit Suisse por US$ 294 milhões -, os bancos nacionais vão contra-atacar.

Itaú BBA, Unibanco, Bradesco, Safra e Banco do Brasil investem pesado em planos de expansão. Planejam contratar um exército de analistas, pessoal da área de vendas, relacionamento com os clientes, negócios, estruturação e originação de operações de mercado de capitais e fusões e aquisições. Vão também investir em marketing para reforçar uma imagem de ágil banco de investimento, reduzindo a associação da sua marca apenas com banco de varejo ou de crédito no atacado.

"Há um trem passando agora e ou você entra ou perde a oportunidade para sempre", diz Jean-Marc Etlin, vice-presidente responsável pelo banco de investimento do Itaú BBA, hoje o líder entre os nacionais. Grandes gestores de recursos, os maiores nacionais têm mantido a liderança no mercado de renda fixa - debêntures, notas promissórias e fundos de investimento em direito creditório (FIDCs). Mas, nas debêntures, o bolo de comissões pagas aos bancos de investimento caiu cerca de 15% em 2006 em relação a 2005, apesar do crescimento de emissões.

O grande filão é o mercado de renda variável, que teve crescimento de 150% no bolo total de comissões aos bancos de investimento em 2006. Mas, nesse mercado, a liderança é do Credit Suisse e do UBS Pactual. Para 2007, as empresas pequenas e médias serão as principais a realizarem emissões iniciais de ações (IPOs). "Os nacionais têm como vantagem um relacionamento comercial com todas as companhias do Brasil, inclusive as pequenas e médias", diz Bruno Padilha, diretor-executivo responsável pelo banco de investimento do Unibanco.

Tradicionais bancos de crédito, os nacionais percebem um processo da desintermediação financeira em curso, com mais empresas procurando recursos fora dos bancos. "Teremos um crescimento rápido e acelerado do mercado de capitais, com mais investidores dispostos a comprar ações", diz Etlin. Com a queda nos juros, esses investidores serão justamente as pessoas físicas nacionais, principalmente as mais ricas, dos fundos de private bank, cujos recursos são administrados principalmente pelos bancos nacionais. Hoje, no mercado secundário, um terço das ações já é adquirido pelo varejo local e outro terço, pelo investidor institucional nacional. Mas, nos IPOs, os estrangeiros compram 70%.

"Os investidores locais vão ter uma participação maior no mercado de IPOs e a rede de distribuidores que os bancos locais tem será mais efetiva", diz Francisco Cláudio Duda, diretor de mercado de capitais e investimentos do Banco do Brasil, com R$ 180 bilhões sob administração. "Somos duas vezes uma Hedging-Griffo", brinca. A própria emissão de ações enriquece os acionistas das empresas e amplia o mercado de private bank, comenta Duda.

Etlan lembra que a estabilidade econômica, no câmbio e a inflação em baixa têm mudado o perfil do país. "Esses fatores vão permitir que o Brasil chegue à terra do grau de investimento e, se você acredita nisso, está acreditando também em mudanças brutais no mercado de capitais brasileiro", diz. Com tantos recursos disponíveis às empresas, o mercado de fusões e aquisições também bate todos os recordes, com US$ 300 milhões em comissões aos bancos previstas para 2006.

Para "consolidar a liderança entre os nacionais já conquistada", o Itaú BBA pretende ampliar em 20% sua equipe de 22 pessoas, que não inclui os 11 analistas, 24 responsáveis pelas vendas de ativos e a corretora, sob o controle do Banco Itaú, com 160 funcionários. Após adquirir as atividades do BankBoston, o grupo ganhou força no private bank. Tem hoje R$ 149 bilhões sob administração.

O Itaú BBA fortaleceu seu banco de investimento antes e por isso está bem posicionado: há dois anos, tirou Etlan e equipe do UBS. O grupo também investiu em internacionalização, com corretora em Hong Kong, Londres e Nova York. Por isso, conseguiu participar do mercado de IPOs com destaque, apesar da participação majoritária do investidor externo até agora.

Em 2006, até novembro, o Itaú BBA o foi líder no mercado de renda fixa, nos rankings de debêntures, notas promissórias e Fundos de Investimentos em Direitos Creditórios da Anbid (Associação Nacional dos Bancos de Investimento). Ficou em terceiro lugar, no entanto, em renda variável, atrás do Credit Suisse e UBS Pactual.

O Bradesco, apesar da segunda ou terceira colocação nos rankings de renda fixa em 2006, não figura entre os 14 primeiros nos rankings de renda variável. Mas, a meta de José Luiz Acar Pedro, responsável pelo Bradesco Banco de Investimento (BBI), é atingir a liderança em três anos. "Vamos trazer uma verdadeira brigada para nosso banco de investimento", afirma Acar. Serão cerca de 50 novas pessoas, para totalizar 70, sem contar a corretora no Brasil, que possui cerca de 120 funcionários.

A primeira contratação de peso do Bradesco já foi anunciada em meados de 2006: Bernardo Parnes, ex-presidente da Merrill Lynch no Brasil e ex-gestor de recursos dos acionistas do Safra. Parnes foi o primeiro executivo da história do banco que não veio dos quadros do próprio Bradesco ou de instituição adquirida. Ele cuida da área de mercado de capitais, da corretora em Nova York e de uma tesouraria, que atuará em conjunto com a do Bradesco.

Depois da quebra de paradigma, o banco não descarta trazer mais executivos de fora. "Quando precisarmos, iremos ao mercado certamente", diz Acar. Só de analistas, o banco vai recrutar de 12 a 14 pessoas. "Queremos dar suporte aos investidores estrangeiros e pessoas físicas e jurídicas nacionais que querem investir em ações", afirma ele. A idéia é cobrir setores ainda pouco explorados, conta. Na corretora em Nova York, serão mais 4 a 5 pessoas contratadas neste ano.

Um tesoureiro especial para o BBI também será escolhido em breve, assim como 3 ou 4 pessoas para originação e estruturação de operações. Em administração de recursos de terceiros, o Bradesco tem R$ 140 bilhões e é um dos líderes, mas também quer ampliar sua participação. "Este ano será forte, mas estamos apostando no país com uma visão de longo prazo", diz. O BBI pretende explorar ainda mais as parcerias com os sócios do Bradesco - o BBVA, o Banco Espírito Santo e o Tóquio Mitsubishi. "Eles tem o investidor e nós temos o conhecimento do mercado local e das empresas brasileiras como ninguém", diz Acar.