Título: Milton Luiz vai presidir a Nossa Caixa
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 05/01/2007, Finanças, p. C8

O secretário-executivo do Banco Central, Milton Luiz de Melo Santos, será o novo presidente do banco Nossa Caixa. Ele aceitou convite feito pelo governador de São Paulo, José Serra (PSDB), com quem trabalhou anteriormente no Ministério do Planejamento.

Para que Milton Luiz assuma a Nossa Caixa, será necessária a aprovação de seu nome pelo BC. Ele respondeu a três processos no Conselho de Recursos do Sistema Financeiro Nacional, conhecido como "Conselhinho", e recebeu punição de multa em dois deles.

Legalmente, esses processos não impedem que Milton Luiz assuma cargos no sistema financeiro. Ele pagou as multas e os processos foram extintos. Os processos do Conselhinho estão vinculados à sua passagem, entre 1990 e 1992, pela diretoria da Caixa Econômica Federal.

Milton Luiz respondeu solidariamente por decisões tomadas pela diretoria colegiada da Caixa, e não por atos individuais. Um dos processos, sobre a liberação indevida de cruzados novos bloqueados no Plano Collor, foi arquivado. A conclusão foi que a decisão de liberar os cruzados foi tomada por gerentes da Caixa, sem a interferência de diretores.

Em outro processo, Milton Luiz teve uma pena de inabilitação de três anos para exercer cargos no sistema financeiro convertida em uma multa de pouco menos de R$ 4 mil, em valores da época. O acórdão do Conselhinho se refere à concessão de empréstimo com a cobrança de encargos inferiores aos custos de captação e sem seguir os princípios de seletividade, garantia e diversificação. O caso, amplamente divulgado na época, foi o empréstimo feito pela Caixa à Globopar, em acusação apresentada pelo então governador do Rio, Leonel Brizola (PDT). A operação foi julgada regular pelo Tribunal de Contas da União. Mas o Conselhinho entendeu que, do ponto de vista das regras do sistema financeiro, a operação não era regular.

Em um terceiro processo, Milton Luiz foi multado em pouco menos de R$ 1 mil porque a Caixa concedeu empréstimos a clientes com restrições cadastrais e não baixou operações inadimplentes a crédito em liquidação. O acórdão do Conselhinho diz que a pena original, de R$ 4 mil, foi reduzida porque Milton Luiz não estava diretamente vinculado à área que que fechou as operações e por não "ter figurado cumulativamente na concessão e na renovação das operações de crédito".

Milton Luiz é funcionário de carreira do BC desde 1972. Na década de 1980, ele participou de um conselho criado pelo governo de Minas Gerais, na gestão de Newton Cardoso (PMDB), que definiu o que seria feito com os cinco bancos do Estado. Como consequência desse diagnóstico, ele próprio comandou a privatização do Agrimisa, em 1988. Nos dois anos seguintes, foi presidente do Banco Credireal. Ele trabalhou com Serra entre 1995 e 1996, quando foi coordenador de gestão das empresas estatais na Secretaria de Controle das Empresas Estatais do Ministério do Planejamento. Em março de 2006, deixou a diretoria de recursos de terceiros do Banco Bancoob, atendendo a convite do presidente do BC, Henrique Meirelles, para assumir a secretaria-executiva da instituição.

A Nossa Caixa está sendo presidida interinamente por outro funcionário de carreira do BC - Jorge Luiz Avila da Silva -, que assumiu a presidência da instituição, no lugar de Carlos Eduardo da Silva Monteiro, também egresso dos quadros do BC.