Título: Depoimento de ex-diretor da Dersa frustra expectativas petistas na CPI
Autor: Junqueira, Caio
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2012, Política, p. A8

O depoimento ontem do ex-diretor da estatal paulista Dersa Paulo Vieira de Souza na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Cachoeira frustrou as expectativas dos petistas, que esperavam extrair dele declarações fortes contra o ex-governador José Serra (PSDB), candidato a prefeito de São Paulo.

Em mais de seis horas de depoimento, Souza disse nunca ter arrecadado recursos para campanhas eleitorais do PSDB, minimizou a participação da construtora Delta no Estado e afirmou que esteve com o ex-presidente da construtora Delta Fernando Cavendish em apenas duas ocasiões, uma em que o empresário se apresentou, outra quando entregou a obra.

Ainda assim, deputados do PT comemoraram o que consideraram indícios de ilegalidade na construção do Rodoanel - obra da qual a Delta não participou. Eles apontam que houve mudança do regime de execução já com o projeto executivo em andamento, alterações no detalhamento de pontes e do pavimento e um "suspeito" aditivo de R$ 256 milhões - feito com o aval do Tribunal de Contas da União e do Ministério Público Federal. Por isso, o vice-presidente da CPI, Paulo Teixeira (PT-SP), pediu que fosse feito um requerimento a esses órgãos para esclarecimentos.

A insistência dos governistas para que falasse das suas relações com o PSDB teve poucos resultados práticos. O mais forte deles foi quando Souza classificou de "ingratos" alguns integrantes do PSDB, como o ex-governador Alberto Goldman, que o demitiu da Dersa oito dias após a inauguração do Rodoanel. Listou ainda outros integrantes do partido nesta situação: o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso; o ex-secretário-geral da Presidência Eduardo Jorge; e o atual secretário de Energia de São Paulo, José Aníbal.

Ele contestou ainda o apelido de Paulo Preto, dizendo que é pejorativo e que ninguém nunca o tratou assim. Também disse ter entrado com uma representação contra a presidente Dilma Rousseff por ela ter questionado Serra em um debate na campanha eleitoral de 2010 sobre um "assessor que fugiu com R$ 4 milhões".

Após a fala de Souza, foi a vez de Cavendish depor. Ele, porém, negou-se a falar. "Por orientação do meu advogado, permaneço em silêncio", disse. Antes que Cavendish deixasse a sala, porém, o líder do PSDB no Senado, Alvaro Dias (PR), pediu a palavra e questionou o empresário sobre declarações suas em áudios captados pela Polícia Federal.

"O senhor disse que compra senador por R$ 6 milhões. Que senador o senhor comprou ou compraria por R$ 6 milhões? Interpelei-o judicialmente e a Justiça do Rio de Janeiro disse que não o encontrou. É uma questão de hombridade que o senhor responda", disse Dias. O presidente da CPI, senador Vital do Rego Filho (PMDB-PB), acatou a pergunta " em homenagem ao Senado da República". O empresário respondeu: "No momento oportuno responderei."