Título: Apesar da PPP, base terá que ser reconquistada
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 27/12/2004, Política, p. A6

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu o compromisso com os líderes partidários da base aliada de aperfeiçoar, em 2005, o relacionamento político com o Congresso. Lula sinalizou claramente que conta com o ministro da Coordenação Política, Aldo Rebelo, para executar tal tarefa, o que é um sinal de que o ministro fica no governo e na função, e que o presidente considera tão difícil a missão que para levá-la a bom termo pede apoio dos líderes. O cenário de tranqüilidade absoluta, verificado na votação das Parcerias Público Privadas (PPPs) dificilmente se repetirá. A surpreendente votação do projeto nas duas Casas em menos de 24 horas explica-se pelo fato de o projeto ter sido exaustivamente negociado com oposição e aliados no Senado. Ou seja, não havia empecilhos políticos à sua aprovação. A ofensiva governamental coincidiu ainda com as festas de fim de ano e a exaustão das energias parlamentares capazes de resistir ao projeto. Em 2005, Lula começará o ano anunciando mudanças na equipe. Contará, no Congresso, com um PMDB pela metade. Observa um PT que dá sinais de recomposição interna, mas que ainda pode sofrer revés no processo de sucessão da Câmara ao escolher como candidato o deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (PT-SP), com pouco trânsito político entre os parlamentares de diferentes partidos. Terá o governo que negociar muito. Enfrentará, a contragosto, os debates antecipados sobre a sucessão presidencial de 2006, por pressão do PSDB e PFL. O otimismo exagerado, nos últimos dias, não permite que o presidente veja esses fatos políticos como percalços. Lula acredita que alcançará maioria parlamentar, pois tem número para aprovar os projetos com os 40 deputados do PMDB (numa bancada de 77) e 20 senadores (na bancada de 23). O problema político com o PMDB é a reeleição do presidente, que não tendo o partido ao seu lado, institucionalmente, fica sem o tempo de TV do PMDB, e não a maioria parlamentar, avaliam governistas. Os ministros, segundo o presidente, já foram cobrados e orientados a tratar os parlamentares com mais decência e respeito. Lula pretende transformar a reunião com líderes numa rotina do poder, podendo realizá-la de quinze em quinze dias. Mais uma vez, o presidente disse a seus aliados que quer acionar o Conselho Político em 2005, formado pelos presidentes de partidos da base. O presidente prometeu também que haverá regras novas para o Orçamento, garantindo a liberação automática de emendas, sem que seja necessário enfrentar esses constrangimentos de negociações a varejo. Ele considera que liberar as emendas individuais dos parlamentares é um dever do Executivo, e disse que isso será feito. Lula acha que 2005 será um ano de consolidação do crescimento econômico. Em conversa durante confraternização com os líderes, disse que até março o governo lança, oficialmente, um plano ferroviário para o país. Para os aliados, de fato o presidente começa o ano com mais prestígio político, devido aos sinais positivos da economia. Só que é preciso assegurar a continuidade do crescimento. "O ano de 2005 não pode dar chance ao azar", definiu o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS). A prioridade no Congresso será a conclusão da reforma tributária, especialmente em relação aos itens que representam desoneração da folha de pagamento das empresas. Isso é muito mais prioritário que as reformas sindical e trabalhista, dizem os aliados. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, insiste na autonomia do Banco Central. O PT já avisou que vai chamá-lo para um debate no Congresso no início do ano. O convite será feito pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), na Comissão de Assuntos Econômicos. Ao enfatizar que Aldo Rebelo terá muito trabalho para manter coesa a base aliada, Lula deixou claro, mais uma vez, que o ministro fica onde está. O presidente da Câmara, João Paulo Cunha, deve integrar o primeiro escalão, mas em outro ministério. Lula demonstra, assim, que não quer mudanças na tropa de choque que atua no Congresso. Também avisou aos aliados que o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), é imprescindível na função.