Título: Acionista da Wheeling se opõe a plano de fusão com CSN
Autor: Balthazar, Ricardo
Fonte: Valor Econômico, 16/10/2006, Empresas, p. B7

Apareceu mais um obstáculo para o plano de expansão da Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) nos Estados Unidos. Um influente investidor que controla participações significativas em várias empresas do setor decidiu se opor ao plano de fusão dos ativos americanos da CSN com os da Wheeling-Pittsburgh, apresentado em agosto.

Numa carta aberta para o conselho de administração da empresa, o sócio-gerente da Tontine Management, Jeffrey Gendell, pede o fim das negociações com a CSN e a substituição da atual diretoria da Wheeling. Empresas e fundos de investimento associados à Tontine têm 9,5% das ações da Wheeling, o que faz desse grupo o terceiro maior acionista da companhia.

A Tontine também tem participações relevantes em algumas das maiores siderúrgicas americanas, como a AK Steel e a U.S. Steel. Isso torna Gendell uma voz influente no setor e suas opiniões costumam ser seguidas por muitos investidores que têm ações em companhias como a Wheeling mas não acompanham o dia-a-dia da siderurgia.

Gendell também é contra os planos da Esmark, uma distribuidora de produtos siderúrgicos que disputa com a CSN o controle da Wheeling. Na carta, o investidor considera as duas ofertas "inaceitáveis" nos termos em que foram apresentadas. Ele argumenta que ambas diluem as participações de acionistas minoritários como ele e avaliam os ativos da empresa por baixo.

A CSN não se manifestou sobre o assunto. Mas numa nota divulgada na sexta-feira a direção da Wheeling reconhece a importância das preocupações manifestadas por Gendell e diz que procurou-o para conversar e estabelecer um "diálogo mais ativo". O investidor se declarou disposto a injetar US$ 100 milhões na Wheeling e terá uma primeira reunião com a administração da empresa amanhã.

O presidente da Esmark, Craig Bouchard, também se mostrou pronto para negociar. "Temos muito respeito por Jeff e concordamos com partes significativas da sua carta", disse ao Valor. "Estamos abertos para ajustar nossa oferta." A proposta da Esmark foi rejeitada várias vezes pela direção da Wheeling, que defende a transação com a CSN como a melhor solução para a empresa.

O plano depende da concordância dos acionistas da Wheeling para ser posto em prática e ainda não está definido quando ele será submetido a uma votação. Com a fusão, a CSN ficaria com 49,5% das ações de uma companhia que passaria a controlar os ativos da Wheeling e de uma laminadora de aço que a siderúrgica brasileira comprou em 2001 no Estado de Indiana.

A CSN injetaria US$ 225 milhões na operação, por meio de um empréstimo que após três anos poderia ser convertido em ações, ampliando para 65% a participação da CSN. O negócio tem importância estratégica para a empresa, porque ampliaria sua presença no mercado americano num momento em que a indústria siderúrgica está se consolidando em torno de poderosos grupos internacionais.

A oposição do grupo Tontine não significa o fim das aspirações da CSN, mas poderá obrigar a empresa brasileira a pagar bem mais caro pela Wheeling se quiser levar adiante a transação. O objetivo principal de Gendell é obter um preço melhor pelas suas ações e ele provavelmente também abrirá nos próximos dias negociações com a Esmark.

Não é a única dificuldade no caminho da CSN. Desde que a transação foi anunciada, ela tem enfrentado a oposição do sindicato que representa os empregados da Wheeling. Os Metalúrgicos Unidos (USW, na sigla em inglês) controlam 23% das ações da empresa, têm o poder de vetar qualquer tentativa de transferir seu controle e apóiam a proposta da Esmark.

Os vários grupos envolvidos na batalha terão uma oportunidade para medir forças numa assembléia de acionistas convocada pela Wheeling para o dia 17 de novembro, quando será eleito o novo conselho de administração da siderúrgica. Contra a diretoria atual, simpática à fusão com a CSN, concorrerá uma chapa patrocinada pela Esmark.