Título: Romney tenta unir partido profundamente dividido
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 30/08/2012, Internacional, p. A13

Competindo pela atenção dos americanos com o noticiário da passagem do furacão Isaac por Nova Orleans, o candidato republicano à Presidência dos Estados Unidos, Mitt Romney, sobe hoje à noite no palanque da convenção nacional do partido com o desafio de mobilizar as várias tendências internas, dos mais conservadores aos moderados, que entraram numa luta fratricida durante as eleições primárias. Ele também terá que provar aos eleitores independentes, considerados o fiel da balança das eleições presidenciais, que é capaz de construir os consensos políticos necessários para tirar o país da sua mais grave crise econômica desde a Grande Depressão.

As convenções são uma das principais vitrinas eleitorais nos Estados Unidos e, quando os candidatos se saem bem, costumam alavancar suas intenções de voto. Em 2008, o então candidato republicano John McCain teve uma audiência de cerca de 40 milhões de telespectadores. Romney, que já tem a desvantagem da sua falta de carisma e empatia com o eleitor médio, corre o risco de ser um pouco ofuscado pelo Isaac, rebaixado ontem para tempestade tropical.

Com perfil político moderado, Romney adotou discurso mais de direita nas prévias partidárias republicanas, mas mesmo assim não conseguiu convencer as alas mais conservadoras do partido. Agora, tenta empolgar a base para fazê-la ir às urnas no dia da eleição, algo fundamental num sistema político em que o voto é facultativo.

Desde a eleição do presidente Richard Nixon em 1968, há três grandes grupos de eleitores conservadores dentro do Partido Republicano, que não têm necessariamente muito em comum entre si, afirma Clifford Young, diretor do Ipsos Public Affairs, empresa de pesquisa de opinião pública.

Um desses grupos são os conservadores em temas sociais, que entre outras coisas se opõem ao aborto e a casamentos entre pessoas do mesmo sexo. Em geral, são mais religiosos e representam cerca de 40% da base do partido. Outra perna do tripé republicano são os conservadores em assuntos econômicos, que representam algo como 40% da base do partido e defendem forte ajuste fiscal, corte de impostos e uma menor presença do Estado na economia. Um terceiro grupo, equivalente a cerca de 20% da base do partido, são os conservadores em política externa, que defendem um Estados Unidos militarmente forte.

"Os conservadores econômicos não são, necessariamente, conservadores em temas sociais, e vice-versa", afirma Young. "Os falcões em temas de segurança nacional não são, necessariamente, em favor de um Estado mínimo nem contra aborto ou casamento do mesmo sexo."

Dois fenômenos recentes chacoalharam o Partido Republicano - o movimento ultraconservador Tea Party e o grupo de libertários que apoiou o deputado Ron Paul nas eleições primárias. Muitos analistas políticos acham que esses dois grupos representam novas tendências dentro do Partido Republicano e que, de alguma forma, Romney terá que estender a mão para eles. De certa forma, eles pertencem à linhagem dos conservadores econômicos.

Dentro do partido, há ainda um grupo de moderados, como parece ser o próprio Romney. São em geral políticos que, para sobreviver em regiões do país dominadas pelo Partido Democrata, como o Nordeste americano, tiveram que deslocar seu discurso para o centro. Também há um pelotão pragmático de caciques republicanos que, para assegurar viabilidade eleitoral em nível nacional, evita posições conservadoras extremas. Sozinhos, eleitores republicanos ou democratas não formam a maioria, por isso é vital atrair os independentes.

O desejo comum de derrotar o presidente Barack Obama, ainda considerado favorito para conquistar um segundo mandato nas eleições de novembro, tende a estimular a união dos republicanos. O gesto mais forte de Romney para envolver a direita em torno de sua candidatura foi a escolha do deputado Paul Ryan, um conservador em temas econômicos e sociais, como candidato a vice-presidente.

"Esse é um cálculo político muito delicado", afirma Young. "É essencial para Romney mobilizar a base conservadora do partido, mas Ryan poderá afastar os eleitores independentes, que são o fiel da balança. Obama vai tentar mostrar que Ryan não é um moderado."