Título: Seca na Austrália prejudica trigo e pecuária de corte
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Fonte: Valor Econômico, 16/10/2006, Agronegócios, p. B10

A Austrália enfrenta a pior seca em um século, e a expectativa é de que esse quadro eleve os preços dos alimentos. Isso já gera preocupações com a inflação e até com o crescimento econômico do país. A produção de trigo e a pecuária, já afetados por secas em outros anos, voltam a sofrer. O país, que é o terceiro maior exportador de trigo do mundo, deve produzir apenas 11 milhões de toneladas nesta safra, segundo o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA). Na safra anterior, havia produzido 24 milhões de toneladas.

Com a quebra da safra australiana, que ajuda a derrubar os estoques mundiais de trigo para seu menor nível, a AWB, principal exportador do cereal da Austrália disse que deve suspender as vendas para os países da costa leste e rever os pedidos.

A menor produção australiana já contamina os preços internacionais do trigo, que na última semana subiram 11,41%, para US$ 5,32 nos contratros de segunda posição, conforme o Valor Data. Só na sexta, a alta foi de 7 centavos de dólar.

Segundo Élcio Bento, analista da Safras&Mercado, os preços firmes do trigo refletem um cenário apertado no mercado internacional, que foi agravado com a estiagem na Austrália. A safra mundial deverá ficar em 585 milhões de toneladas em 2006/07, ante 618 milhões de toneladas, um recuo de 5,3%. "A relação dos estoques mundiais sobre o consumo tambem reduziu dos 20% nos últimos anos para 16%, o que ajuda pressionar as cotações", disse Bento.

Para piorar, na Argentina, país também prejudicado pela seca, há rumores de que o governo poderá limitar as exportações. Na sexta-feira, não houve negócios com trigo na bolsa de Rosário. "Não há mais trigo da safra passada para ser negociado", disse Bento.

Outro segmento prejudicado pela seca na Austrália é a criação de gado corte. A oferta de animais aumentou 58% semana passada, derrubando os preços do boi, segundo a Meat & Livestock Australia Ltd. A razão é a seca que deteriorou as pastagens forçando os criadores a ofertarem mais animais. O indicador do boi magro caiu para US$ 2,23 por quilo (equivalente-carcaça), menos de três quartos do valor registrado um ano antes.

A disponibilidade de alimento para o gado está se tornando uma preocupação no país, já que os preços do grãos estão em alta, segundo a entidade. Também há preocupação, principalmente no Estado de Vitória, com a disponibilidade de água para irrigação e até para consumo humano.

Segundo maior exportador de carne bovina, atrás do Brasil, a Austrália vende ao exterior cerca de dois terços da carne que produz.