Título: Bovespa espera pacote do setor elétrico e BCE em semana curta
Autor: Takar, Téo
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2012, Finanças, p. C2

A semana começa devagar nos mercados por causa do feriado do Dia do Trabalho nos Estados Unidos. A data marca o fim das férias de verão por lá e sinaliza que o fluxo de capital estrangeiro deve voltar a circular com força nos próximos dias. E a agenda de eventos segue carregada tanto aqui como lá fora.

Depois do presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central americano), Ben Bernanke, ter deixado a porta aberta para uma nova rodada de estímulos à economia dos EUA, mas sem definir prazos no discurso que fez sexta-feira em Jackson Hole, as atenções se voltam para a reunião do conselho do Banco Central Europeu (BCE), na quinta-feira.

Antes disso, líderes europeus terão encontro hoje com o presidente do BCE, Mario Draghi. Os investidores reagirão ainda ao dado de atividade da China, à inflação brasileira (IPCA), na quarta-feira, e também à geração de emprego nos EUA, que sairá na sexta, quando a Bovespa estará fechada devido ao Dia da Independência.

Além disso, o governo brasileiro anunciará, em algum momento desta semana mais curta, novas regras para renovação das concessões de empresas do setor elétrico, que vencem a partir de 2015.

Na semana passada, as ações de energia despencaram diante da preocupação dos investidores sobre a provável queda na receita das companhias. A divulgação de uma medida provisória (MP) no meio da semana para permitir a retomada de empresas de energia sob intervenção causou ainda mais tensão no mercado. A MP 577, no entanto, não tinha qualquer relação com a renovação das concessões vincendas, mas com a situação precária das distribuidoras do grupo Rede, que sofreram intervenção da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na sexta.

As ações de energia dominaram a lista de maiores baixas do Ibovespa na sexta-feira: Transmissão Paulista PN perdeu 9,89%, seguida por Eletrobras ON (-8,18%), Cesp PNB (-6,67%), Cemig PN (-5,37%), Light ON (-4,64%) e Copel PNB (-3,85%).

O Itaú BBA divulgou um relatório com projeções bastante pessimistas para o setor. Os analistas Marcos Severine e Mariana Coelho afirmaram que, no novo cenário de renovação das concessões, "o teto de preços irá cobrir apenas as despesas operacionais (opex), e os ativos não amortizados serão indenizados com os recursos da RGR (reserva global de reversão)". Por conta disso, eles cortaram drasticamente as estimativas de preço-alvo das ações. Eletrobras, que deverá ser a empresa mais afetada pelas medidas, na avaliação do Itaú BBA, teve seu preço justo para o fim deste ano reduzido em 69%, de R$ 42,30 para apenas R$ 13,00.

A queda das elétricas impediu a Bovespa de acompanhar a alta das bolsas americanas, que reagiram ao discurso de Bernanke. O Ibovespa encerrou em baixa de 0,34%, aos 57.061 pontos. Desta forma, a bolsa brasileira perdeu 2,33% na semana, mas subiu 1,72% em agosto. No ano, o avanço acumulado é de apenas 0,54%.

O volume financeiro foi bastante elevado, de R$ 10,154 bilhões, em função dos ajustes de fim de mês nos fundos de investimento e também devido a alterações nas carteiras dos índices da Bovespa e do MSCI, que entram em vigor hoje. Cetip ON (3,40%) e Suzano Papel PNA (2,73%) ingressaram no Ibovespa, que agora conta com 69 papéis de 64 empresas. O peso de OGX ON no índice dobrou, para 5,1%. Marcopolo PN (3,45%) passou a fazer parte do MSCI, índice produzido pelo Morgan Stanley e usado como referência por muitos fundos de investimento estrangeiros.

Já HRT ON (-18,98%) deixou a carteira do MSCI e também devolveu na sexta parte dos ganhos do dia anterior, quando disparou 22,6%, em meio aos rumores de que a empresa poderia sofrer uma oferta hostil ou realizar fusão com outra companhia de petróleo. A empresa declarou à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) que não há nenhuma divulgação pendente que justifique a disparada dos papéis. Entre as ações mais negociadas, Vale PNA ganhou 2,66%, Petrobras PN recuou 1,37% e Itaú Unibanco PN caiu 2,46%.