Título: Um substituto para Kirchner
Autor: Vaz, Viviane
Fonte: Correio Braziliense, 15/11/2010, Mundo, p. 14

Com a morte do ex-presidente da Argentina, acúpula da Unasul precisa nomear novo secretário-geral. Lula, Álvaro Uribe, Michelle Bachelet e Tabaré Vázquez são os nomes mais cotados Júbilo e pesar estarão presentes na próxima reunião de cúpula da União de Nações Sul-americanas (Unasul), entre 24 e 26 de novembro, em George Town, Guiana. A morte do ex-presidente argentino Néstor Kirchner deixou em aberto não só o futuro de um dos principais partidos políticos da Argentina (o peronista) como a estrutura do bloco, que reúne os 12 países da região e perdeu seu secretário-geral. No encontro, os líderes sul-americanos deverão começar a discutir quem pode assumir o cargo. No mesmo dia, a Guiana vai homenagear o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, que deixará o cargo em 1º de janeiro de 2011 (leia nesta página).

A Unasul foi criada em 2004 e oficializada quatro anos depois, em Brasília, aos cuidados da presidência temporária do Equador. Durante uma reunião em Buenos Aires, em maio deste ano, Kirchner foi escolhido por unanimidade para assumir a Secretaria-Geral, responsável por estruturar a Unasul e escolher sua sede definitiva.

O artigo 10 do Tratado Constitutivo do bloco estabelece que o ocupante do cargo deve ser escolhido pelo Conselho de Chefes de Estado e de Governo a partir da proposta do Conselho de Ministros de Relações Exteriores por um período de dois anos, renovável apenas uma vez. Segundo o Itamaraty, o tratado não menciona de forma específica como deverá ser a sucessão do secretário-geral, mas recomenda que não seja da mesma nacionalidade que o anterior. Vários nomes de ex-presidentes, porém, começam a circular nos bastidores. O colombiano Álvaro Uribe, o uruguaio Tabaré Vázquez, a chilena Michelle Bachelet e Lula lideram a lista.

O vice-chanceler equatoriano, Kintto Lucas, considera que o perfil do funcionário que substituirá Kirchner deve ser uma personalidade que tenha transcendência e capacidade de diálogo regional e ao mesmo tempo projeção exterior. ¿A vaga será ocupada por alguém de perfil alto¿, disse Lucas. Já o chanceler uruguaio, Luis Almagro, manifestou perante o congresso uruguaio que a vaga poderia ser oferecida novamente à Argentina, uma vez que Kirchner não terminou o mandato de dois anos.

Ratificações Além de pensar em quem poderia assumir a Secretaria-Geral da Unasul, os presidentes da região devem debater também o andamento da ratificação do tratado constitutivo por cada país-membro. Como presidente pro tempore, o Equador tenta conseguir que nove países ratifiquem o tratado ¿condição fundamental para que o bloco ganhe vida jurídica. Até o momento, oito já cumpriram a tarefa: Argentina, Bolívia, Chile, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.

O mais provável é que Colômbia e Uruguai sejam os próximos a ratificarem o tratado. Na quarta-feira, o Senado colombiano aprovou o texto e o enviou para estudo em dois debates no plenário da Câmara de Representantes. No Uruguai, o tratado foi aprovado no Senado depois de um acirrado debate entre a Frente Ampla (partido do presidente, José Mujica) e o Partido Nacionalista. A oposição questiona a criação de um Parlamento da Unasul e deve recomeçar a discussão agora na Câmara dos Deputados.

Impulsor da Unasul, o Brasil tampouco tem servido de exemplo para vencer a resistência de ¿los hermanos¿. Em audiência no Senado uruguaio, Almagro manifestou que o Brasil ainda não tinha aprovado o tratado e que não deveria fazê-lo até o fim do ano ¿informação que incomodou o líder da bancada nacionalista, Jaime Trobo.

Segundo o Correio apurou, a discussão da ratificação do tratado constitutivo da Unasul pelo Brasil continua parada na Câmara dos Deputados. Em julho de 2009, a Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional aprovou o texto previsto na Mensagem 537/08 do Poder Executivo. De acordo com o relator, deputado Marcondes Gadelha (PSB-PB), o acordo tinha pontos polêmicos, como a criação de um parlamento da Unasul. Gadelha observou como necessária a inclusão do Parlamento do Mercosul no rol dos órgãos da Unasul e considerou prematura a fixação da cidade de Cochabamba, na Bolívia, como sede do Parlamento.

Fernando Lugo Seis dos 12 presidentes da Unasul já confirmaram sua presença na cúpula da entidade. Entre eles, o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, que deverá passar por São Paulo depois da reunião de cúpula para sua sexta e última sessão de quimioterapia. Lugo luta contra um câncer linfático.

Presidente homenageado A Guiana vai homenagear o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, durante a cúpula da União de Nações Sul-Americanas (Unasul) em 25 de novembro. ¿Não temos nenhuma dúvida do consistente apoio do presidente Lula à integração econômica e ao desenvolvimento, particularmente em relação à Guiana¿, disse o secretário de gabinete da Guiana, Roger Luncheon, na semana passada.

O alto funcionário destacou que a contribuição do Brasil ao desenvolvimento da Guiana em diversas áreas justifica a homenagem ao líder brasileiro, que deixará o cargo em 1º de janeiro de 2011. Entre as iniciativas de cooperação bilateral está a construção de uma ponte sobre o rio limítrofe Takatu; a promessa de pavimentar uma estrada na Floresta Amazônica; e a construção de uma usina hidrelétrica. A previsão é o que o policiamento da ponte Takatu para impedir o tráfico de drogas e armas seja feito pelos dois países.

Guiana e Brasil mantêm relações diplomáticas desde 1966, com o reconhecimento da independência do país. Em 2002, especulou-se que o Brasil fez uma operação militar numa região da Guiana reclamada pelo Suriname para destruir bases aéreas usadas por traficantes de drogas. O governo brasileiro negou a história, mas afirmou que, se tal operação tivesse sido realizada, seria com a permissão da Guiana. A última visita do presidente Lula ocorreu em março de 2007, quando foram assinados vários acordos de cooperação.

Lula é também um dos nomes cogitados para assumir a Secretaria-Geral da Unasul. Para muitos, uma figura popular internacionalmente como o presidente seria ideal para fortalecer o grupo. Para o jornal argentino Ambito Financiero, Lula será uma ¿figura-chave¿ a partir de janeiro. ¿Aparece como o candidato ideal: não só pelo tamanho do Brasil, como potência, mas também pelo protagonismo de Lula no cenário internacional¿, afirma o diário.

Candidatos Além de Lula, três ex-presidentes sul-americanos são cotados para assumir a Secretaria-Geral da Unasul. Saiba quem são eles:

Álvaro Uribe Ex-presidente da Colômbia

» Depois de ser prefeito de Medellín, senador e governador do departamento de Antioquia, Álvaro Uribe foi eleito presidente da Colômbia para os períodos 2002-2006 e 2006-2010. Uribe manteve uma margem de popularidade acima dos 95%, devido à política de segurança contra as Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc). Fechou o segundo mandato com relações diplomáticas cortadas com o governo equatoriano de Rafael Correa e do venezuelano Hugo Chávez, o que pode dificultar sua candidatura a secretário-geral da Unasul.

Michelle Bachelet Ex-presidente do Chile » A médica e política chilena foi presidente do Chile de 2006 a 2010 e a primeira mulher a exercer a Presidência de uma República na América Latina. Membro do Partido Socialista do Chile, ocupou o lugar de ministra da Saúde no governo de Ricardo Lagos, entre 2000 e 2002, e posteriormente o cargo de Ministra da Defesa. Ocupa atualmente a Presidência temporária da Unasul e acaba de ser eleita a responsável pela nova agência das Nações Unidas para a mulher ¿ a ONU Mulher, que substitui o Unifem (Fundo para o Desenvolvimento da Mulher).

Tabaré Vázquez Ex-presidente do Uruguai » O médico e político uruguaio foi presidente do Uruguai de 2005 a 2010. De tendência socialista, é o líder da principal coalizão de esquerda do país, a Frente Ampla. Fontes próximas a Vázquez disseram ao jornal uruguaio La República que consideram como ¿pouco provável¿ que o ex-presidente aceite ser candidato a secretário-geral da Unasul.