Título: Piso de R$ 2 voltará a ser testado
Autor: Osse, José Sergio ; Campos, Eduardo
Fonte: Valor Econômico, 03/09/2012, Finanças, p. C2

Mais um mês começa com a mesma dúvida no mercado de câmbio: qual a disposição do governo em manter o dólar acima dos R$ 2,0 e abaixo dos R$ 2,10.

Pelas últimas indicações de membros do governo, a "política cambial" de manter o real desvalorizado para dar competitividade à indústria segue em marcha. E a taxa de câmbio em R$ 2,0 é um patamar considerado adequado pelo governo.

No entanto, as forças externas podem dar mais trabalho ao governo. O Federal Reserve (Fed), banco central americano, reafirmou que está pronto para atuar.

Apesar de não ser novidade, a fala do presidente da instituição, Ben Bernanke, foi apontada como motor para forte alta do euro, que testou preço não visto em mais de três meses, e para o ganho de preço de commodities e outros ativos de risco.

De diferente na fala do mandatário, teve a avaliação de que a economia está longe de ter um desempenho satisfatório e que o mercado de trabalho representa grave preocupação.

A percepção de parte do mercado é que o Fed está prestes a ligar, novamente, a impressora de dólares. E Bernanke deixou claro que acredita que isso faz, sim, toda a diferença para a economia dos Estados Unidos.

Para o diretor e chefe de pesquisa para a América Latina da Nomura Secutiries, Tony Volpon, essa indicação de que o Fed estaria disposto a adotar mais medidas de estímulo já se fez sentir no Brasil.

"A alta [de sexta-feira] do real é o primeiro passo nesse processo e acreditamos que, com o tempo, ainda que não agora, o governo e o BC permitirão que o dólar caia abaixo de R$ 2", escreveu Volpon.

O dólar comercial recuou 0,78% na sexta-feira, para R$ 2,031. Na semana, no entanto, a moeda americana ainda ganhou 0,30%. Mas encerrou o mês de agosto com queda de 0,93%.

Outro evento na pauta é o fim das férias de verão no hemisfério Norte. O diretor da Futura Corretora, André Ferreira acredita numa retomada das captações externas, tanto pelo governo quanto por grandes empresas brasileiras, o que elevaria o fluxo de dólares para o país.

"O mercado deve testar a linha dos R$ 2 de novo, para ver o que o BC vai fazer. Tem que ver como, e se, o BC vai defender isso", disse Ferreira.