Título: Economistas veem risco de inflação
Autor: Machado, Tainara; Giffoni, Carlos
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2012, Brasil, p. A3

Dos cem produtos que estão na lista de exceção à Tarifa Externa Comum (TEC) do Mercosul, 47 compõem o Índice de Preços ao Produtor (IPP), calculado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Em sua maioria, são bens intermediários, como folhas e tiras de alumínio, cordas a cabos de aço, tijolos refratários e chapas de plástico. Para economistas, com o encarecimento desses insumos, é pouco provável que não haja aumento de custo para a indústria. Por isso, avaliam, a medida tem impacto inflacionário e deve chegar ao consumidor.

Até agora, os preços ao produtor de itens que devem ter a tarifa de importação elevada subiram menos nos últimos 12 meses do que a inflação no atacado para a indústria de transformação como um todo. O Índice de Preços ao Produtor (IPP) mostra que a cesta de produtos metalúrgicos considerada na composição do indicador ficou 0,55% mais barata nos 12 meses encerrados em julho. Minerais não metálicos tiveram aumento de 3,21%, produtos de borracha e plástico alta de 4,8% e outros produtos químicos, alta de 4,95%. Para a indústria de transformação como um todo, os preços no atacado subiram mais, 7,19% no mesmo período.

Ao comunicar a alta do imposto na terça-feira, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, disse que se empresários aproveitarem a medida para reajustar preços, as novas tarifas serão derrubadas.

Thiago Carlos, economista da Link Investimentos, avalia que não será a pressão do governo que segurará a alta de preços. Para ele, o encarecimento de insumos industriais tende a chegar ao consumidor com alguma defasagem, possivelmente apenas no próximo ano, já que o repasse ao produto final depende de condições específicas de cada setor e da variação dos estoques, por exemplo. A possibilidade de que essa alta ocorra adiciona, na opinião de Carlos, um risco a mais para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no próximo ano, mesmo período em que deve terminar a desoneração de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para itens da linha branca e móveis. Thiago Carlos projeta avanço de 6% do IPCA em 2013.

Thais Zara, economista-chefe da Rosenberg & Associados, acredita que a elevação das tarifas de importação terá um claro impacto inflacionário, mas ainda é difícil aferir se o aumento será relevante.

Para Sergio Vale, economista-chefe da MB Associados, o aumento do imposto de importação para a cesta de cem produtos vai encarecer os custos da indústria nacional. Ele acredita que o governo tem uma visão errada sobre as importações, que, no caso brasileiro, segundo ele, contemplam insumos da indústria e bens de capital. Esses itens, quando produzidos no país, custam mais, afirma.

"É preciso lembrar que grande parte da nossa importação é feita de insumos e bens de capital que ajudam a melhorar a competitividade das indústrias que estão aqui. Um país que quer exportar cada vez mais tem que fazer uma abertura comercial não somente para as exportações, mas também para as importações, porque elas permitem acesso a bens de capital efetivamente mais baratos", diz.