Título: Agricultor da UE rejeita acordo com o Mercosul
Autor: Moreira, Assis
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, Brasil, p. A4

O Congresso dos Agricultores Europeus foi aberto ontem em Estrasburgo (França) rejeitando avanço nas negociações União Européia-Mercosul e pedindo a retirada de ofertas na já suspensa Rodada Doha da Organização Mundial do Comércio (OMC).

Uma das alegações é de que só os exportadores ganham e que o Brasil sozinho abocanharia mais da metade dos benefícios de uma futura liberalização agrícola internacional, entre os países em desenvolvimento. A abertura do Congresso coincidiu com as comemorações do Dia Mundial da Alimentação, dando a ocasião para os agricultores europeus lançarem documento pedindo que a negociação na OMC "não entrave" a luta contra a fome conduzida pelos países em desenvolvimento.

Em comunicado, os agricultores citam estudos do Banco Mundial e da OCDE para mostrar que mais de 90% dos benefícios da liberalização iriam aos países ricos - o que inclui redução de custos para os consumidores.

A poderosa central agrícola Copa-Cogeca apóia-se na suposta defesa dos países pobres para não cortar tarifas no mercado europeu. Alega que profundas reduções de alíquotas não beneficiariam os agricultores pobres, e sim empresas multinacionais do setor agroalimentar no mercado mundial ou no próprio mercado doméstico.

A direção da Copa-Cogeca avisou que não aceitará "concessão suplementar" na negociação UE-Mercosul, prevista para ser retomada no Rio, e voltou a cobrar do bloco do Cone Sul idênticos padrões ambientais e sanitários aos exigidos na Europa. Ao mesmo tempo, a entidade pediu para a Comissão Européia retirar todas as ofertas feitas na OMC, que poderiam ameaçar a política agrícola européia decidida em 2003.

Rudolf Schwarzbock, presidente da Copa, faz uma das mais duras críticas até agora à estratégia de negociação do comissário de Comércio, Peter Mandelson. O comissário saiu da defensiva e colocou propostas na mesa de negociações na OMC, passando a aceitar corte médio de 50% nas tarifas, comparado à idéia inicial de 39%, além de maiores reduções nos subsídios.

Para a Copa, porém, "todo mundo sabe que esse foi um grande erro", porque os Estados Unidos não se moveram na negociação agrícola, além de Brasil e Índia tampouco terem feito concessões esperadas na área industrial. "A estratégia da Comissão (Européia) tem sido errada e sem resultados, sem benefício para nossa agricultura e nem para os países em desenvolvimento", estima o representante da Copa. Schwarzbock pediu para a UE abandonar a idéia de eliminar os subsídios à exportação em janeiro de 2014, como acertado na conferência da OMC em Hong Kong.

Cercado por outros pesos pesados da agricultura européia, Schwarzbock alertou também para a negociação bilateral. "A experiência passada e as negociações com o Mercosul mostram que esses acordos bilaterais não são alternativas que funcionam", afirmou. "O que não foi resolvido na Rodada Doha tampouco vai ser resolvido entre a UE e o Mercosul."

Donal Cashman, presidente da Cogeca, previu novas parcerias e fusões entre cooperativas de diferentes países europeus, para afrontar o poder dos supermercados. Atualmente, na maioria dos países europeus, um pequeno grupo de supermercados controla mais de 50% de todo o mercado de alimentação. Para lutar contra essa concentração no varejo, as cooperativas tendem a juntar forças para obter melhores preços.