Título: Lula tenta reverter voto nos pólos econômicos
Autor: Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, Política, p. A9

O PT e seus aliados reconhecem que falharam no primeiro turno no convencimento dos chamados "setores produtivos" da sociedade brasileira. Apesar do discurso de que a economia está consolidada e pronta para o crescimento sustentado, Lula perdeu para Geraldo Alckmin nos setores onde o PIB é mais concentrado: empresariado, agronegócios, grandes centros urbanos. O debate ético, impulsionado sobretudo pelo escândalo do dossiê, deixou governo e partido acuados, inflamou o discurso da oposição e impediu que o Planalto apresentasse as realizações dos quatro primeiros anos de mandato. "O debate econômico ficou para o segundo plano", lamentou o governador do Acre, Jorge Viana (PT).

Neste segundo turno, o esforço é para mostrar para o setor produtivo que, de fato, o país está pronto para crescer. "Temos que mostrar que o combate à inflação, o ajuste das contas públicas, a inversão da balança comercial, que passou de deficitária para superavitária, são os mecanismos que vão permitir um crescimento de 5% ao ano", afirmou o ministro da coordenação política, Tarso Genro. "Precisamos passar uma sensação de confiabilidade para os empresários", completou.

Essa confiabilidade será retomada, avalia ele, na medida em que o governo mostrar para os empresários que pretende acelerar investimentos em infra-estrutura, energia, mantendo a política fiscal austera e o combate à inflação. "São sinais claros de que estamos comprometidos com a produção", acredita Genro.

Esse discurso já havia sido desenhado no primeiro turno, quando Lula reuniu-se, separadamente, com diversos empresários de grande porte. As reuniões aconteceram sobretudo na residência do ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan. Nelas, promessas chegaram a ser feitas, como a redução da carga tributária, reforma tributárias e até trabalhista. Mesmo assim, os empresários seguiram preferindo Alckmin. "O discurso da direita foi mais eficiente", reconheceu o deputado Carlito Merss (PT-SC).

Embora Lula se esforce, especialmente neste segundo turno, para tentar convencer o eleitorado mais informado de que não pretende dividir o país entre ricos e pobres, estrategistas da campanha admitem que a percepção das realizações do governo são diversas nos dois setores. Os eleitores de Lula beneficiados pelos programas sociais tornam-se mais sensíveis às ações governamentais, pois vivenciaram mudanças mais significativas em seus padrões de vida, avaliam.

Essa situação não se repete entre as classes mais altas da sociedade. "Sobretudo em setores como o agronegócio de exportação, que sofre com um grau de endividamento histórico", lembrou Genro. Nestes segmentos da sociedade, as alterações são mais lentas, quase pontuais. "Eles vivem um desgaste econômico estrutural, que nós herdamos das gestões anteriores", declarou o ministro.

Na semana passada, Lula reuniu-se com o governador reeleito do Mato Grosso, Blairo Maggi. Uma das principais lideranças ruralistas do País, Maggi recebeu um repasse de R$ 1 bilhão para estimular a compra, pela indústria, da produção futura de soja. Foi mais um passo de Lula para tentar reduzir sua rejeição entre os produtores rurais. "Nós perdemos em todos os estados que possuem fronteira agrícola: Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Goiás, Rio Grande do Sul, Paraná e São Paulo", enumerou o vice-líder do governo na Câmara, Beto Albuquerque (PSB-RS).

O agronegócio reclama, sobretudo, da valorização do real perante o dólar. Acreditam que isso os torna pouco competitivos na hora de exportar a produção agrícola e defendem uma desvalorização da moeda nacional. Para Merss, a intervenção no câmbio seria um retrocesso a um período anterior ao câmbio flutuante. "PSDB e PFL sempre defenderam o câmbio livre. Não podem nos criticar agora", reclamou ele.

Um dos coordenadores da campanha de Lula em São Paulo, o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP) espera que neste segundo turno o debate seja mais programático e menos passional. "Fotos de dinheiro e dossiês fajutos tiraram a racionalidade da campanha. Quando a poeira assentar e os programas de governo forem de fato debatidos, Lula leva vantagem", aposta ele.

Para o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), contudo, é um erro preocupar-se em demasia com a baixa votação do presidente Lula em redutos dos setores econômicos mais ativos do país. "Não podemos esquecer que toda eleição tem seu componente ideológico. O presidente Lula escolheu um lado: a população carente. Sem esquecer que há setores, como o agronegócio, que enfrentam dificuldades que precisam ser minoradas", acrescentou.