Título: Dilma conjuga agenda positiva com participação em campanhas
Autor: Costa, Raymundo
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2012, Política, p. A9

A presidente Dilma Rousseff antecipou sua entrada na campanha municipal de 2012. Hoje, ela anuncia o programa para a redução das tarifas de energia elétrica para empresas e consumidores residenciais. A parte referente a concessões de empresas de energia, cujo anúncio também estava previsto para hoje, ficou para a próxima semana. Mas a presidente pode antecipar também o cronograma estabelecido para participar na eleição. Assim, ela casa a campanha com o anúncio de programas de governo. Sua agenda administrativa está cheia até o final do mês.

Como boa mineira, Dilma havia combinado com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva participar da campanha só depois do 7 de setembro - um ex-governador de Minas, Hélio Garcia, costumava dizer que a eleição sempre só começava "depois da parada" do dia da Independência. No entanto, a queda do tucano José Serra, nas pesquisas, e o crescimento do candidato do PT, Fernando Haddad, podem levar a presidente a fazer sua estreia no horário eleitoral antes do programado, se isso for necessário para tirar Serra da segunda colocação e jogar Haddad no segundo turno da disputa.

A estratégia eleitoral de Fernando Haddad teve participação decisiva do jornalista João Santana, marqueteiro do próprio Lula e de Dilma, em suas campanhas. A maior preocupação de Santana era usar Dilma na hora certa. O "mundo ideal", como diz um interlocutor de Santana, seria ela participar da campanha só no segundo turno - há duas, três semanas atrás o interesse na eleição era mínimo, segundo avaliação feita no PT. Portanto, não havia nada a decidir naquele momento.

"Usar a Dilma naquela época era gastar munição sem necessidade", diz o mesmo interlocutor. Mas havia uma ressalva: se Celso Russomano (PRB) tivesse 25% do eleitorado, segundo as pesquisas, Serra, 19% e Haddad 17%, seria justificável o recurso à Dilma no horário eleitoral para impedir que o tucano chegasse à frente de Haddad ao fim do primeiro turno. Agora o PT começou a acreditar que talvez Haddad ultrapasse Serra só com a força do partido em São Paulo. Mas a direção petista ainda analisa com muita cautela os desdobramentos da eleição.

"A nossa curva é ascendente e a do José Serra, descendente. Mas nós não podemos subestimar, até o último voto", disse ontem um dirigente do PT ao Valor. Ele evidentemente quer que o partido use todos os recursos já agora, em vez de esperar o segundo turno, como era previsto. "É uma questão de se antecipar aos fatos", explica o interlocutor de Santana.

Por exemplo: entre o lançamento da candidatura de Haddad e se começar a discutir a estratégia para o segundo turno, era preciso torná-lo conhecido do eleitor paulistano - e ainda hoje ele não é uma figura inteiramente identificada com Lula, Dilma e o PT.

Dilma não antecipou sua participação na campanha apenas pelo fato de o PT passar a vislumbrar a passagem de Fernando Haddad para o segundo turno. Bem avaliada, ela pode socorrer candidatos em dificuldades como Nelson Pellegrino, em Salvador, e talvez até Humberto Costa, no Recife. Mas o seu maior interessa, no momento, é Belo Horizonte, onde o PT indicou um candidato competitivo - Patrus Ananias -, numa articulação conduzida pessoalmente por ela. A vitória em BH teria um sabor especial para a presidente, pois significaria a derrota do senador Aécio Neves, seu mais provável adversário em 2014, que já está em peregrinação pelos Estados.

A possibilidade de recuperação do PT, que estava mal nas pesquisas, também justificou a dura carta que a presidente escreveu criticando artigo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Lula sempre disse que recebeu de FHC "herança maldita". No artigo, FHC escreveu que Lula deixou para Dilma uma "herança pesada", clara referência ao mensalão. A presidente saiu em defesa do padrinho político dizendo que recebera uma "herança bendita".

Até o fim do mês, Dilma deve lançar a segunda parte do programa de energia elétrica e depois anuncia a abertura de concessões para a construção de aeroportos.