Título: Apoio de Blairo a petista racha ruralistas
Autor: Zanatta, Mauro
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, Política, p. A9

A polêmica aberta pelo apoio formal do governador reeleito de Mato Grosso, Blairo Maggi, à candidatura do presidente Luiz Inácio Lula da Silva rachou a representação do agronegócio.

Lideranças ruralistas tentam isolar Maggi e preparam, sob pressão dos produtores, manifestações de apoio ao tucano Geraldo Alckmin nas principais regiões produtoras do país. Maggi saiu de uma visita a Lula anunciando R$ 1 bilhão para socorrer produtores de soja. "Ele fez uma opção de governador, mas não fala pelo agronegócio. É preciso separar os papéis. Ele não tem legitimidade para negociar em nome do setor", afirma o presidente da Sociedade Rural Brasileira (SRB), João Sampaio.

Contrariados com o apoio explícito de Maggi, considerado o maior produtor individual de soja do mundo, os ruralistas querem neutralizar o movimento com manifestações regionais de apoio a Alckmin durante este semana em Campo Grande (MS), Cuiabá (MT) e Barreiras, no oeste da Bahia. "O Blairo tem outros interesses. E também não é só um produtor rural. Está mais para industrial", afirma a senadora eleita Kátia Abreu (PFL-TO), vice-presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária (CNA), em referência à trading Amaggi, de propriedade do governador.

Na tentativa de marcar ainda mais a opção preferencial do setor pelo tucano, parte da bancada ruralista do Congresso deve conversar amanhã com o presidenciável em Brasília. E, na próxima terça, os ruralistas farão um ato público, em Ribeirão Preto (SP), para confirmar "apoio formal" do setor a Alckmin. "O Blairo vendeu a alma ao Lula, mas estamos todos com Alckmin. E vamos deixar isso bem claro", promete o deputado reeleito Ronaldo Caiado (PFL-GO), organizador do evento.

A opção de Blairo Maggi por Lula causou perplexidade nos produtores rurais, sobretudo em Mato Grosso, onde o petista perdeu do tucano por 16,2 pontos. Reeleito em primeiro turno com 65,4% dos votos, o governador enfrenta uma onda de insatisfação. Sindicatos rurais pressionam a federação estadual (Famato) a fazer um ato contra Maggi durante os "tratoraços" convocados para esta sexta-feira em todos os 141 municípios do Estado. "Vamos marcar uma posição bem clara em favor de Alckmin, o nosso candidato", ameniza o deputado federal eleito Homero Pereira (PPS-MT). "Mas nada contra o Blairo", diz. Líder do tratoraço em 2005 e do locaute de rodovias neste ano, Pereira preside a Famato, mas é amigo pessoal e foi secretário de Maggi. "Cada um na sua. Apanhei muito por aqui, mas já passou. Perceberam que vejo o todo e não só uma parte", afirmou Maggi ao Valor. Ele tem problemas para fechar o caixa do Estado, imerso numa crise em função de problemas no agronegócio. Sobre as críticas aos pedidos a Lula em favor do setor, Maggi rebate: "Não pedi nada mais do que tínhamos apresentado numa pauta antiga. Não tem nada de novo".

Nos bastidores, avalia-se que a reação das lideranças ruralistas contra Maggi reflete uma "ciumeira". Com seu aval, o governador quer, na verdade, influenciar a escolha ou até indicar um nome para o Ministério da Agricultura num eventual segundo mandato de Lula. "Vamos ter de conversar muito para saber as reais intenções dele. Pegou muito mal", afirma o deputado reeleito Abelardo Lupion (PFL-PR), presidente da Comissão de Agricultura da Câmara. Homero Pereira confirma: "Ele está criando um canal próprio. Se Alckmin ganhar, não vão faltar interlocutores. Mas se Lula ganhar, quem conversará com o governo?".