Título: Oposição quer ministro investigado
Autor: Romero, Cristiano e Lyra, Paulo de Tarso
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, Política, p. A10

O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, é o principal alvo do pedido de investigação a ser feito hoje ao presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Marco Aurélio Mello, pelos presidentes dos três partidos que apóiam a candidatura do tucano Geraldo Alckmin (PSDB, PFL e PPS). A oposição quer saber se Thomaz Bastos articulou suposta operação para livrar Freud Godoy, ex-assessor especial do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, de envolvimento no episódio da tentativa de compra de um dossiê contra tucanos por parte de petistas, presos há cerca de um mês com R$ 1,7 milhão em notas de reais e dólares.

"Pediremos que o TSE investigue todos os citados e o envolvimento do ministro da Justiça como intermediário e articulador da artimanha para blindar Freud, ao mesmo tempo em que são afastados e marginalizados delegados da PF que investigavam o caso de forma independente", afirmou o presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE). A denúncia foi publicada pela revista "Veja" desta semana. Freud, ligado a Lula, foi citado por Gedimar Passos - um dos presos com o dinheiro - em depoimento ao delegado Edmilson Bruno, como tendo sido o "contato" da Executiva Nacional do PT para a compra do dossiê. Depois, Gedimar voltou atrás e disse ter sido pressionado pelo delegado. Antes de mudar a versão, teria recebido a visita do próprio Freud e outras pessoas. A operação descrita pela revista teria sido armada pelo ministro, com o objetivo de blindar o presidente.

Os senadores Tasso e Jorge Bornhausen (PFL-SC) e o deputados Roberto Freire (PPS-PE) dizem que o Ministério da Justiça perdeu "credibilidade" e, por isso, vão pedir que a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) indique um representante para acompanhar de perto a investigação da Polícia Federal sobre o caso do dossiê. O episódio provocou a demissão de Freud, o afastamento do deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) da campanha de Lula e da presidência do PT e envolveu vários filiados do partido. Ainda não foi revelada a origem do dinheiro. Para a oposição, o governo está "protelando", para evitar prejuízos à campanha de Lula à reeleição.

fastshpfA pedido da coligação de Alckmin, o TSE já acompanha as investigações da PF sobre a tentativa de comercialização do dossiê. Ontem, os presidentes dos três partidos decidiram pedir também investigação da denúncia da "Veja". O presidente do PMDB, deputado Michel Temer (SP), que apóia Alckmin, não chegou a tempo, mas poderá acompanhar Tasso, Bornhausen e Freire na ida ao TSE e à OAB.

Os presidentes dos partidos de oposição também irão procurar o superintendente da Polícia Federal, Paulo Lacerda, para dizer que não admitem que a instituição seja "transformada em polícia política do governo Lula", disse Tasso. Segundo ele, a oposição vai usar todas "as forças legítimas contra a política fascista que ameaça profissionais que trabalham de maneira independente e contra o uso irregular de instalações da PF, como está acontecendo".

Freire também anunciou que será apresentada ao TSE uma ação contra Lula por "abuso do poder econômico e administrativo" pelo acordo que teria feito com o governador do Mato Grosso (PPS), Blairo Maggi, em troca de apoio à sua reeleição. Maggi afirmou ter recebido promessa de liberação de R$ 1 bilhão para o Estado, além de créditos para o setor de agronegócios. Freire e Tasso chamaram a negociação entre Lula e o governador de "megamensalão". Para o presidente do PPS, Maggi não integra mais o partido. Ele disse estar aguardando carta que teria sido enviada pelo governador, solicitando desligamento. "É um crime eleitoral confesso, explícito, já que deixou o Palácio do Planalto dizendo ter dado apoio em troca de vantagens pecuniárias", afirmou Freire.

A iniciativa da oposição provocou confronto com os integrantes da campanha de Lula, que acusaram Tasso, Bornhausen e Freire de "factóide" com os pedidos de investigação da suposta operação abafa. "Factóide é convocar uma coletiva antes da nossa para já responder", reagiu Freire, ressaltando que os três partidos são "decentes".