Título: Pressionado, Obama passa a cortejar megadoador
Autor: Ribeiro, Alex
Fonte: Valor Econômico, 06/09/2012, Internacional, p. A13

O presidente americano, Barack Obama, passou a cortejar os grandes doadores de campanha, num esforço para levantar dinheiro para competir com a eficaz máquina arrecadadora de seu adversário republicano, Mitt Romney.

Um ex-auxiliar muito próximo de Obama, o atual prefeito de Chicago, Rahm Emanuel, renunciou ontem à presidência honorária do comitê de reeleição para se tornar arrecadador de um fundo de campanha dirigido aos megadoadores, o Priorities USA.

Graças aos megadoadores, a arrecadação da campanha de Romney vem batendo sistematicamente Obama nos últimos meses, num caso raro de candidato de oposição que levanta mais dinheiro do que um presidente que disputa a reeleição.

Em 2008, quando Obama foi eleito pela primeira vez, sua campanha ganhou fama pela forma inovadora com que coletou milhões de pequenas contribuições pela internet, embora sem desprezar os grandes doadores. Agora, ele tenta repetir a fórmula - a novidade é seu esforço mais ativo para atrair megadoadores.

"O prefeito Emanuel é muito próximo do presidente, um forte apoio", afirmou ontem o porta-voz da campanha de Obama, Jen Psaki. "Ele disse que essa é a melhor maneira com que ele pode ajudar o presidente ser reeleito."

Emanuel engrossa um time de peso que, nas últimas semanas, integrou-se à força-tarefa para passar o chapéu entre milionários democratas, como Harold Ickles, ex-arrecadador de campanha do presidente Bill Clinton.

"Vamos ver cada vez mais esse tipo de movimento daqui por diante", afirma um especialista em financiamento de campanha, o professor de governo Anthony Corrado, do Colby College.

Na convenção nacional democrata, em Charlotte, que será encerrada hoje com um esperado discurso de Obama, grandes doadores de campanha estão sendo recebido com tapete vermelho. Uma reportagem postada esta semana pelo site Politico mostra que doadores do chamado Obama Victory Fund, que recebe contribuições de maior volume, terão acesso a eventos especiais com a primeira-dama, Michelle Obama, e com Bill Clinton.

Os maiores esforços da campanha são para encher o caixa dos chamados Super PACs, fundos de arrecadação de dinheiro que, graças a uma decisão da Suprema Corte, podem receber volumes ilimitados de contribuições - às vezes de forma anônima, com uso de alguns artifícios.

"Obama não está arrecadando tanto quanto se esperava, mas mesmo assim ele está se saindo muito bem", afirma Candice Nelson, diretora do departamento de governo na American University. "Muitos dos grandes doadores não estão completamente satisfeitos com as propostas defendidas por ele."

Nos Estados Unidos, as doações diretas aos comitês de campanha são limitados a US$ 5 mil por indivíduo. A campanha de Obama não abandonou os pequenos doadores. Foram US$ 350 milhões arrecadados até julho, segundo os dados disponíveis mais recentes, consolidados pelo site OpenSecrets. Desse montante, 40% vieram dos pequenos doadores, com contribuições até US$ 1.000, e a base de doadores chega a 3,1 milhão de pessoas, superando os números de 2008, segundo a campanha de Obama.

Ontem, um dia depois de Michele Obama fazer um aclamado discurso na convenção, eleitores receberam um e-mail assinado pela primeira-dama pedindo dinheiro. "Você talvez esteja com um orçamento apertado, mas você pode dar o que puder."

Há meios, porém, de contornar o limite individual. A legislação permite doações de cerca de US$ 30 mil para o caixa dos partidos, que podem investir o dinheiro na campanha. Juntando tudo, indivíduos podem doar US$ 35 mil. Obama ajudou a arrecadar US$ 250 milhões para o comitê democrata. A lei, porém, não permite o envolvimento direto de Obama no Super PAC. O Priorities USA arrecadou US$ 25 milhões até julho.

Já a campanha de Romney arrecadou US$ 192 milhões, mas, nos últimos três meses, vem batendo regularmente a de Obama. O comitê republicano levantou US$ 265 milhões. O Super PAC ligado a Romney levantou US$ 89 milhões, mas há inúmeros outros Super PACs, como o American Crossroads, com uma arrecadação de US$ 43 milhões.

Tudo somado, a expectativa é que o custo desta campanha eleitoral supere US$ 2 bilhões, incluindo o impulso esperado na arrecadação depois que os dois partidos realizaram suas convenções. "É possível que, nesta eleição, o dinheiro tenha um papel não tão relevante", afirma Corrado. "Os dois partidos tem mais dinheiro do que o necessário para difundir sua mensagem, considerando que a maior parte dele será investido em cerca de 15 Estados que são os mais importantes na disputa."