Título: Brasil pode descartar candidatura própria à OMC
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 10/09/2012, Brasil, p. A2

A experiência da Rio+20, a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, pode levar o governo brasileiro a descartar a ideia de candidatura própria à direção da Organização Mundial do Comércio (OMC), que vagará no próximo ano, com a saída do atual diretor-geral, o francês Pascal Lamy.

Com base nas discussões da Rio+20, em junho, quando o Brasil foi criticado pela "timidez" do texto final da conferência, embora ele tenha refletido o consenso possível nas negociações, Dilma chegou a comentar com auxiliares que o Brasil deveria buscar maior influência sem comprometer uma indicação do Planalto no comando da instituição.

Nos últimos dias, começaram em Genebra especulações sobre o futuro substituto de Lamy. Agências de notícias internacionais chegaram a incluir na lista de possíveis candidatos o embaixador brasileiro na OMC, Roberto Azevedo. O governo brasileiro prefere, porém, esperar a apresentação de candidaturas de outros países e a formação de blocos de apoio. O Brasil não se compromete nem a apoiar algum candidato de país emergente, como defendem diplomatas estrangeiros em Genebra.

Com base na correlação das forças em disputa, a diplomacia brasileira poderá negociar o apoio do Brasil em troca de compromissos por uma gestão que atenda aos interesses do país. Uma das prioridades do governo na OMC é incluir, entre as regras multilaterais, dispositivos para compensar o efeito negativo de desvalorizações do câmbio sobre o comércio mundial.

A necessidade de disciplinar as mudanças nas cotações de moeda, de forma a não distorcer as condições de comércio entre países, foi alvo de um seminário na OMC, no início do ano, por iniciativa da delegação brasileira, chefiada por Azevedo. O diplomata foi quem apresentou e negociou com sucesso a proposta de promover a discussão sobre o tema na OMC.

Países como Estados Unidos e membros da União Europeia preferem restringir as discussões sobre câmbio à esfera do Fundo Monetário Internacional (FMI), onde os efeitos das variações de cotações de moeda sobre o comércio não estão na agenda.

Em julho, ao falar sobre o tema na sede da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Azevedo comentou que o Brasil terá um "papel central" no estabelecimento de regras para as políticas de câmbio que evitem efeitos negativos sobre países competitivos comercialmente. Negociador experiente e respeitado na diplomacia internacional, Azevedo é o candidato natural do Brasil, caso o país lance um nome para o posto de Lamy. Porém, o diplomata pode ser, em breve, designado para outro posto.

No início do ano, dava-se como certa no Itamaraty a nomeação de Azevedo para a embaixada do Brasil nos EUA, e a da mulher dele, Maria Nazaré Farani de Azevedo, representante do Brasil na missão da ONU em Genebra, para o posto de representante do Brasil na Organização dos Estados Americanos (OEA). Mas, irritada com as iniciativas na OEA contra as usinas hidrelétricas brasileiras, a presidente Dilma esvaziou a representação brasileira na organização. (SL)