Título: Projeções para IPCA se mantêm, apesar de luz mais barata
Autor: Martins , Arícia
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2012, Brasil, p. A2

A redução média de 16,2% no preço da energia elétrica para consumidores residenciais e de até 28% para o setor produtivo superou a expectativa dos economistas, mas não gerou onda de revisões nas projeções para a inflação em 2013. Pelos cálculos de analistas, o corte nas tarifas de energia no ano terá impacto equivalente a redução de cerca de 0,5 ponto percentual no Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período.

Algumas instituições, porém, não devem baixar suas previsões para o indicador nessa proporção, porque esperam outras pressões inflacionárias, como eventual reajuste de combustíveis. Outras preferem aguardar os detalhes da medida, previstos para hoje.

"Um reajuste nos preços dos combustíveis, por exemplo, poderia anular o impacto da redução da energia no IPCA", argumenta o economista Elson Teles, do Itaú Unibanco. Ele ressalta que sua projeção para o IPCA em 2013, de 5,3%, não será alterada, mas está abaixo da média do mercado. O boletim Focus, do Banco Central, mostra que a mediana das expectativas dos economistas é de alta de 5,54% para o IPCA em 2013.

Além do aumento nos combustíveis, Teles destaca como outro risco o prazo de vigência da redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) para móveis, linha branca e automóveis. Caso os benefícios sejam prorrogados até o fim do ano, o impacto de alta na inflação seria concentrado em 2013, embora, em sua opinião, ainda exista possibilidade de concessão de novos benefícios fiscais para amenizar a inflação.

Adriana Molinari, da Tendências Consultoria, diz que o pacote de energia irá aliviar o aumento de preços em 2013, ano em que diversas pressões estão no radar, com a expectativa de recuperação da atividade e também de reajustes nos preços administrados após as eleições municipais. Sem o pacote, a Tendências projetava que a inflação atingiria 6% em 2013. Caso a medida entre em vigor nos moldes antecipados por Dilma Rousseff, a previsão para o IPCA será cortada em 0,55 ponto percentual.

O economista-chefe da Concórdia Corretora, Flávio Combat, também preferiu aguardar os detalhes da medida para revisar suas projeções. Ele pondera, contudo, que não vê possibilidade de o IPCA ficar abaixo de 5% no próximo ano. Por enquanto, a corretora estima alta de 5,5% para o indicador no período. "Entretanto, essa redução abre espaço para mais um corte na taxa básica de juros, de 0,25 ponto percentual", avalia Combat.

Após o anúncio de Dilma, o economista-chefe do banco ABC Brasil, Luis Otávio Leal, espera elevação entre 5% e 5,5% para o IPCA em 2013, abaixo da estimativa anterior, que estava entre 5,5% e 6%. Ele explica que a redução projetada de 0,5 ponto percentual no IPCA do próximo ano devido à queda de preços de energia não foi o principal motivo da revisão de cenário, mas sim a sinalização de que o governo "tem mais cartas na manga para fazer o IPCA ser mais baixo." Segundo Leal, " tudo indica que o governo deve seguir dando condições para que os juros permaneçam em um nível baixo". (FL e AM)