Título: Peso da energia no custo industrial chega a 15% para bens intermediários
Autor: Martins , Arícia
Fonte: Valor Econômico, 11/09/2012, Brasil, p. A2

O corte de até 28% da tarifa de energia elétrica para a indústria deve representar uma redução de custo importante para o segmento, principalmente em setores intermediários. Na média, as despesas com energia elétrica e combustíveis representaram 2,8% dos custos das empresas industriais com cinco ou mais pessoas ocupadas, segundo a versão mais recente da Pesquisa Industrial Anual (PIA), de 2010, preparada anualmente pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

O peso, no entanto, é bem mais relevante para setores intensivos no uso desse insumo. Na produção de cimento, por exemplo, as despesas com energia elétrica representam cerca de 12% do custo total, de acordo com o IBGE. Na fabricação de outros materiais importantes para a construção civil, como vidros e produtos cerâmicos, a proporção é de 10,8% e 15,2%, respectivamente.

Se repassada, ainda que parcialmente, aos produtos finais, o corte no custo da tarifa de energia elétrica deve produzir efeitos positivos sobre a inflação, com impactos indiretos ao longo da cadeia. O setor automotivo, por exemplo, em que a energia representa apenas 1% da despesa total, tende a ser beneficiado por preços mais competitivos de insumos em que o corte das tarifas é mais relevante.

Para economistas, no entanto, as contas de luz residenciais devem dar contribuição de baixa mais significativa para a inflação, já que a "folga" gerada pelos preços menores de energia deve ser usada para recompor as margens apertadas do setor, e não repassada para frente na forma de produtos finais mais baratos.

Os produtos industrializados já vêm ajudando a inflação porque a competição com os importados reprime aumentos de preços e também devido ao efeito das desonerações fiscais concedidas pelo governo. Nos 12 meses encerrados em agosto, os bens duráveis, grupo composto somente por produtos manufaturados, acumulam queda de 5,1% no IPCA, segundo cálculos da Tendências Consultoria.

Para Flávio Combat, da Concórdia Corretora, o objetivo do corte nas tarifas de energia é aumentar a competitividade da indústria brasileira e liberar renda para o consumo, ajudando, dessa forma, a impulsionar a economia. "Ainda não sabemos se a redução no custo da energia para a indústria será repassada ao consumidor. Se isso ocorrer, creio que será muito marginalmente."

O presidente da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e Eletrônica (Abinee), Humberto Barbato, avalia que a indústria nacional não terá alternativa, pois se não repassar para os preços dos bens finais a redução na conta de energia continuará a perder mercado para os produtos importados.

Para o setor de máquinas, aparelhos e materiais elétricos, a compra de energia elétrica e de combustíveis representa apenas 1,3% do custo total, de acordo com a PIA de 2010. Para Barbato, no entanto, a redução da tarifa tem que ser considerada em conjunto com outras medidas, como a desoneração da folha de pagamento e a desvalorização do câmbio. "Esses três fatores fazem com que a nossa competitividade aumente tanto no mercado externo como no interno. A presidente está tomando decisões que demonstram com muita clareza a prioridade que ela dá para a indústria", afirma.

Antônio Carlos Kieling, superintendente da Associação Nacional dos Fabricantes de Cerâmica para Revestimento (Anfacer), considerou a redução positiva, mas avalia que dificilmente esse corte será repassado para o preço final dos produtos. As tarifas de energia elétrica mais baratas, diz ele, serão suficientes apenas para que o setor "continue respirando", já que para a indústria de revestimento o gás natural é mais importante como fonte de energia. O combustível foi reajustado neste ano e, segundo Kieling, o setor não alterou preços por causa da concorrência com o importado.

Para ele, a redução do custo do gás natural é "fundamental", pois tem peso de até 25% na estrutura de custo das empresas, dependendo do produto, enquanto a energia elétrica representa até 8% da despesa total. Na PIA, o IBGE coloca na mesma conta os gastos com energia elétrica e com outros combustíveis.

Lucien Belmonte, superintendente da Associação Brasileira das Indústrias de Vidro (Abividro), também atribuiu ao gás natural papel mais importante na redução dos custos do setor. Para ele, a redução da tarifa de energia elétrica permite que o segmento ganhe competitividade e volte a produzir, avaliando que por causa das margens reduzidas, não haverá alteração no preço final.

Adriana Molinari, da Tendências, também não acredita que o pacote vai repercutir nos preços finais. "Essa redução nas tarifas para a indústria será captada como margem", devido à recessão em que o setor se encontra.