Título: Nova linha da Caixa cria desafio na gestão de risco
Autor: Ribeiro, Alex e Grabois, Ana Paula
Fonte: Valor Econômico, 17/10/2006, Finanças, p. C3

A Caixa Econômica Federal lançou ontem uma linha de crédito de R$ 1 bilhão com juros prefixados, a partir de 11,9% ao ano, para o financiamento à habitação. Até o fim do ano, o banco federal pretende emprestar R$ 1 bilhão nesta modalidade, que poderão ser utilizados na compra de imóveis novos ou usados. O novo produto, que foi criado dentro das regras anunciadas pelo Ministério da Fazenda para incentivar os empréstimos prefixados, cria um novo desafio para o gerenciamento de riscos na carteira da instituição.

Outra novidade anunciada pela Caixa é uma taxa de juros mais baixa para quem toma crédito habitacional com débito em conta ou com consignação em folha de pagamento. Para imóveis até R$ 130 mil, a taxa prefixada é de 12,9% ao ano, mas pode cair para 11,9% se o pagamento for consignado ou com débito em conta.

Os juros prefixados máximos são de 14,5% no financiamento de imóveis com valor superior a R$ 350 mil; a taxa cai para 14% ao ano no caso de débito em conta ou consignação em folha. Nos contratos vinculados à taxa referencial (TR) o juro também cai quando o cliente autoriza débito em conta ou contrata crédito consignado.

Tradicionalmente, a Caixa operava no crédito habitacional com taxas flutuantes - o indexador é a TR. O sistema anulava o risco de mudança nas taxas de juros, já que o principal fonte de recursos para os empréstimos habitacionais são as captações em caderneta de poupança, que pagam ao investidor a TR.

O principal risco era o de liquidez, representado pela concessão de empréstimos de longo prazo com recursos captados com liquidez de curto prazo. Até hoje, porém, o risco de liquidez não se mostrou relevante, já que os depósitos em caderneta se mantém bastante estáveis.

O vice-presidente de Administração de Riscos da Caixa, Bolivar Tarragó Moura Neto, diz que o mercado financeiro não tem hoje instrumentos financeiros capazes de travar os riscos de variação das taxas de juros. "Como não há opções no mercado, a única alternativa é precificar esse risco de variação de juros no contrato", afirma. Ou seja, as taxas embutem um prêmio para cobrir o risco de variação dos juros.

O problema é que o prêmio é calculado com base no histórico de variação da TR. Visto de hoje, esse risco diminuiu bastante. O cenário daqui por diante é de um ambiente ainda mais favorável. Mas não há garantia de que esse cenário vai mesmo se concretizar. Basta lembrar que, no período de câmbio fixo, o risco de variação da cotação do dólar era pequeno, mas se mostrou enorme quando foi adotado o regime de câmbio flutuante.

Para lidar com esse risco mais abrangente, afirma Bolivar, a Caixa procura calibrar a carteira de crédito habitacional com os riscos mais amplos de seus balanços, incluindo outros ativos e passivos, como captações prefixadas e títulos pós-fixados. Também irá expandir a sua carteira habitacional prefixada com cautela, para não provocar desbalanço entre os riscos.

Bancos estrangeiros foram os primeiros a criar linhas de financiamento habitacional com juros prefixados. No princípio, usavam recursos captados no exterior como "funding" para os financiamentos habitacionais. No mercado existem instrumentos que permitem lidar com esse risco.

Agora, os bancos estrangeiros estão entrando no crédito prefixado com recursos da caderneta de poupança, o que cria também para elas o problema de como administrar riscos.

"Vamos chegar ao recorde de R$ 14 bilhões até dezembro", afirmou a presidente da Caixa, Maria Fernanda Ramos Coelho.

Do total dos empréstimos habitacionais concedidos pela Caixa, os recursos do FGTS representaram R$ 6 bilhões até o terceiro trimestre e devem somar R$ 9,4 bilhões até o fim de 2006. Do total dos R$ 14 bilhões previstos, 75% serão destinados a famílias com renda de até 5 salários mínimos.